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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Os filhos de Mad Max

Há uma coisa que os homens têm, que as mulheres não têm - e nem vou perder tempo com piadinhas mais ou menos brejeiras relacionadas com a construção desta primeira frase: o fascínio absolutamente esmagador por tudo o que é aventura.
E por aventura leia-se, pré-história, índios e cowboys, tudo o que é conflito bélico, aventureiros de capa e espada e/ou mascarilha e cavalinho a trote, Indianas Jones, Zorros e Tarzan da nossa praça.
E civilizações perdidas, come esta, dos Maias, que Mel Gibson recuperou para o grande ecrã. Aliás, e falava disso mesmo com o Zé Carlos, do blog do Hug The Dj, não me lembro de alguma vez ter visto um filme dedicado a nenhuma destes povos...

Como todos os rapazes, o bom Mel é fã absoluto destas coisas das aventuras. E é precisamente como um puto maravilhado pelas antigas civilizações e por todo o seu imaginário, que ele nos apresenta o seu mais recente trabalho, Apocalypto.
Confesso que ia à espera de uma mega-produção sobre a história dos Maias, com tudo a que tinha direito. As grande metrópoles, as maquinarias avançadas, o misticismo...
Mas não. O realizador optou - e bem - por regressar ás suas origens cinematográficas e fazer uma espécie de antepassado do Mad Max que lhe deu fama. E ainda bem. Apocalypto não é um deslumbre plástico para os olhinhos, mas sim uma - literalmente - corrida através das florestas colombianas. A fuga de um caçador a um destino mais do que lixado e violento. E é violento, o filme de Gibson. É duro e bruto, como penso que seriam aqueles tempos naquele local. E percebe-se que o homem estudou bem a lição. Não caíu na tentação de dourar a pílula, como seria fácil de prever, e elaborou, a partir de uma história muito simples, um óptimo filme de acção. Não resistiu a um punhado de clichés, mas também, num filme de acção pura e dura, os clichés acabam por fazer parte integrante dos ingredientes.
Actores famosos? Não há. Excepção feita a Raoul Trujillo - o chefe-mauzão -, um secundário cuja cara não me é estranha.
Mas são actores de luxo, diga-se. Destacando-se, obviamente Rudy Youngblood, no papel principal.
A destacar um momento de um filme feito e abrilhantado por momentos, que seja aquele em que percebemos, quando o caçador fugitivo chega finalmente à sua selva - ao local que conhece melhor do que tudo na vida - que é ali e naquele momento que a presa vai imediatamente passar a caçador. E percebemos. Porque Mel Gibson sabe filmar. E porque percebeu que o cinema - e parece que quase toda a gente já se esqueceu disso - é imagem. E sabe que uma imagem bem filmada é tudo. E aquele momento é uma imagem apenas. Clara e objectiva.

Pontos negativos?
Existem, e estranhamente onde menos se esperavam. A banda sonora, demasiado artificial para um filme tão artesanal, tão musculado, e a opção de algumas cenas serem filmadas em digital, o que estraga por completo todo o ambiente que se pode retirar de uma selva abundante e sufocante. Que estraga toda o grafismo que Gibson retira de corpos tatuados, talhados e adornados com todo o tipo de objectos. Mais uma vez, o imaginário Mad Max a toda o gás.
Os maus são graficamente irrepreensiveis e metem mesmo medo, acreditem.

Vale a pena a visita ao cinema, com pipocas, Coca-Cola e aquele olhar que já não tinhamos desde que o nosso pai se sentava connosco a ver o Sandokan - pelo menos o meu pai sentava-se...