Ora bem, na passada segunda feira fui ao Coliseu assistir ao primeiro dos dois concertos que o Chico Buarque deu na grande sala do Porto.
Não sendo propriamente um conhecedor da sua obra - logo, não sendo também um fã -, fui expectante mas não entusiasmado. Gosto do que o homem escreve - muito -, sei que tem algumas das músicas mais bonitas do cancioneiro popular brasileiro, mas de facto não domino a sua carreira.

O início do concerto teve um sabor estranho.
O homem/músico apresenta-se em palco com uma aparente e desconcertante falta de energia. Quase como se não tivesse vontade nenhuma de estar ali.
E ambas as constatações são verdadeiras. A falta de energia é desconcertante mas é mesmo só aparente - é uma (falta de) presença que primeiro se estranha mas depois se entranha, e ele não quer mesmo estar ali.
Sei de fonte segura - made in Barraco from Miramar - que Chico Buarque não só não aprecia dar concertos ao vivo, e muito menos fazer torunées, como não percebe sequer como é que um músico consegue retirar qualquer prazer disto.

Posto isto, o concerto em si.
Óptimos músicos, como sempre, belas melodias, um sambinha aqui e ali para animar o pé de malandro e um público como eu gosto: conhecedor, fã rendido, mas sem nunca incomodar o ritmo do espectáculo. Gostei.

Não gostei no entanto da roupagem que Chico Buarque decidiu dar ás suas composições. E admito, não sendo um conhecedor da sua carreira, posso estar a ser ignorantemente injusto. Mas a verdade é que quase toas as canções interpretadas tinham aquele aroma a casino, ou a festa da SIC para os profissionais da casa, com Pinto Balsemão na linha da frente.
Houve momentos bons, antológicos até, como o delicioso dueto quase no final com o baterista, refinado vocalista de sambinha à moda antiga.

Ou seja, não saí do concerto de barriga cheia ou sequer surpreendido. Mas que passei umas boas duas horas, lá isso passei. Em parte culpa da companhia e do bailarico no camarote...