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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, outubro 11, 2006

Diário de férias - 14 de Agosto


Ontem a festa não chegou ao ponto de bebedeira, e ainda bem. Já chega de tanto excesso.
Fiquei-me pela boa disposição de quem bebe um copo a mais, que, no meu caso, significa desde logo o primeiro.
A nós juntaram-se a Rebekka e a Jielena, duas queridas suiças no mesmo estado de espirito que nós e que ajudaram a animar a noite - e a madrugada dos meus irmãos(!).
Eu regressei à tenda assim que me apercebi estar a mais e dormi.
Hoje fui a Tavira comprar os bilhetes para o autocarro que vai levar os gémeos ao Porto.

No regresso fui até à praia, mas apenas para ser expulso pelo forte vento que soprava e que a queria só para ele.
A noite, mais uma vez, foi de arromba. Voltei à vila para me despedir do Marco e da Ana e encontrar-me com os do costume.

No regresso a Quatro Águas para apanhar o barco de volta à ilha, percorro aqueles duzentos metros por entre as salinas e a reserva natural da Ria Formosa acompanhado apenas pelos milhares de sons dos pássaros que ali habitam. É uma sensação única. Quando chego ao parque de campismo estou pronto para me deitar, perfeitamente relaxado.
Mas não me deito...

Amanhã é o dia porque aguardo há mais de uma semana. O dia em que chegas, finalmente.
Deitado mais uma vez à porta do nosso «quintal», sinto a vontade de escrever coisas que nunca te disse e que nem tenho a certeza se algum dia te direi, por falta de coragem.

Não são coisas de que me envergonhe. Pelo contrário. Não acho ainda ter o direito a elas, é só.
Aqui, agora, sinto que gostava de te ter em mim para sempre. É precipitado, eu sei. Mas também é grande o suficiente para manter guardado.
E volto a pensar no Huck.
No dia em que esteve comigo horas a fio, clados, à espera do comboio que me levaria para longe, o pior verão da minha vida.
Lembro-me da noite em que nos secámos da água do rio, debaixo das estrelas no céu mais quente de sempre.
Dos dias em que ardia em febre na sua barraca, quando a única coisa que eu podia fazer era segurar uma vela bem juntinho à sua cara para ter a certeza de que continuava a respirar. E era só uma febre.
Sempre senti que pegavas em mim com as mãos em concha, como quem pega em água fresquinha para molhar a cara.
Sempre me senti protegido.
Sempre me senti vivo e confiante, ao teu lado.
E sempre tive um medo terrivel de que nessa energia incansável que transportas e que te transporta para todo o lado, te esquecesses de mim, ou que corresses rápido demais para que eu te pudesse acompanhar.
E tenho medo que um dia pegues em mim com as tuas mãos em conchinha e me sopres para longe, como quem sopra dentes-de-leão.