Tem-me sido cada vez mais difícil levantar da cama. O corpo levanta-se, mas a cabeça parece ficar na almofada. Sempre cheia de tanta coisa não consigo ler, mas que me ocupa tanto espaço. Se me perguntarem "em que estás a pensar" não saberei responder, portanto mais vale que não perguntem. Sei qué é grande, e que é muito e que é desagradável. Mas não perguntem...
Deito-me ao som do que julgo ter sido Thomas Dybdahl, pois já nem me lembro de ter desligado o I-Pod. Ah, não desliguei. Adormeci com música nos ouvidos. Acordo e a primeira coisa que me vém à mente é Radiohead. Porque voltei a ligar-me à música, mal sabendo que os primeiros acordes me manteriam neste estado morno e sem peso. Já tantos escreveram sobre este efeito, mas produzido por drogas e por estados de loucura. Regra geral ouvimos as suas vozes elogiando esse estado de espirito. Não sei... Não me sinto e não o sinto.
Sempre que paro uma actividade, morro por inteiro, tenho de me encostar a qualquer coisa, a qualquer um. Curiosamente não me consigo encostar a mim. Seria útil.
Conhecem aquela sensação...
Quando chegamos à cama completamente fatigados e nos deitamos e sentimos todo o nosso corpo assumindo a forma do colchão, ao mesmo tempo que nos parecem sugar toda a pouca energia que nos resta?
Essa sensação.
E de repente...
Sou confrontado com o valor brutal das pequenas coisas. E apercebo-me de que não são nada pequenas. São enormes. Vêm em formato pequenino e em pouca quantidade de cada vez, mas são gigantescas. E riscam um sorriso idiota por cima desta cara sem expressão e que me ajuda a enganar a minha mãe sempre que chego a casa. Nessas alturas ela pensa sempre que a minha vida é boa.
E a minha vida, quando saboreio as pequenas coisas, é boa!
É tão boa, que consegue surpreender os meus trinta e três anos e fazer-me perceber que os meus trinta e três anos afinal ainda não viram nada, ainda não saborearam nada.
E depois o efeito passa, e eu fico ansiosamente à espera de mais coisas pequenas.
E fico à espera de voltar à cama, embora não queira nada dormir para não perder tempo. Cada piscar de olhos é uma fracção de tempo perdido, é uma fracção de vida, de história que fica por observar. Mas a mente, mais do que o corpo, tem duas personalidades distintas. Uma implora-me por descanso, por umas horas de paz, enquanto a outra me grita, mexe-te para fora dessa cama, vai fazer qualquer coisa, por amor de Deus!!!
E tento obedecer a ambas, mas elas não me ajudam. Nenhuma é mais forte do que a outra. Levanto-me e motivo-me para fazer qualquer coisa, por amor de Deus, mas fico-me pelas intenções. Tento-me deitar quando é chegada a hora, mas os gritos na minha cabeça mantêm-me acordado por mais algumas horas, quase até desmaiar.
E lembro-me da última coisa de que me consigo lembrar quando adormeci ao som do Thomas. Life here is gold...
Nem sei se me ria como por gozo, ou se lhe dê toda a razão.
E volto a ler o que escrevi e concluo que nunca teria escrito isto desta forma.
2 Comments:
At 22:46, Carlos said…
Tens sorte de eu não estar por perto.
At 00:51, i said…
mas este é o melhor post de sempre
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