kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, novembro 16, 2010

PRODUZIDO POR...?

Já há muitos anos que não se via um filme de terror passado num elevador. "Devil", produzido por M. Night Shyamalan, explica-nos porquê. O filme é de terror? É, sim senhor. Mete medo, inquieta ou assusta? Não senhor. E era suposto? Era, claro.

Existem várias falhas em "Devil", começando desde logo pelo argumento, demasiado curto para um filme de hora e meia. E percebe-se porquê assim que o nome da empresa produtora criada por Shyamalan aparece no ecrã: The Night Chronicles. Ou seja, o realizador (agora) maldito pretende claramente apostar em objectos muitos próximos de séries televisivas de antologia, como "The Twilight Zone". Vai daí, o que assistimos em "Devil" é uma espécie de episódio-piloto de uma possível nova série de televisão. O erro? Está feito para cinema, o que potencia a sua pequenez.

Para além disso, um elevador é de facto um espaço muito pequeno, limitativo de toda a acção que ali possa decorrer. O realizador, John Erick Dowdle - tarefeiro que já havia dirigido a versão americana de "REC" - piora a situação com uma ineficaz gestão do suspense e, principalmente, do decorrer dos acontecimentos. O filme torna-se muito rapidamente óbvio, desinteressante e sem uma ou outra pequenas surpresas para manter a malta agarrada à cadeira. Por outras palavras, despenca-se do 23º andar.

Compreende-se e louva-se a intenção de Shyamalan em homenagear e, de certa forma, recuperar, um género que tão mal tratado tem sido. Louva-se igualmente a opção de escolher um elenco totalmente secundário, razoavelmente empenhado e que empresta a um objecto tão desiquilibrado uma quanta dose de harmonia. Fora isso, tudo é um vazio de ideias, ou, em casos pontuais, um mau aproveitamento de bons conceitos. O melhor do filme? O genérico e o primeiro momento de tensão...

Há uns meses, quando vi o trailer de "Devil", pensei sinceramente que M. Night Shyamalan tinha encontrado a forma de produzir aquilo que realmente gosta, livre do espartilho cada vez mais apertado dos estúdios, com cada vez menos vontade de investir num realizador que, sabe-se lá porquê, perdeu a magia.

Infelizmente ainda não foi desta. Shyamalan enfiou mais uma bala certeira no pezinho e desceu mais um degrau na escala da paciência, credibilidade e esperança de salvamento. Depois do simpático e bem intencionado - mas absolutamente sensaborão - "The Last Airbender", aquele que já foi considerado o salvador do cinema de ficção americano parece ter atirado a toalha. Definitivamente? Provavelmente.