kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quarta-feira, novembro 15, 2006


Ontem adormeci a a pensar na forma como as pessoas se entregam ás relações.
De amor, pois claro.
Parece-me óbvio que existem dois tipos de entrega distintos. A entrega total, sem travões, sem regras de qualquer espécie, independentemente da(s) experiencia(s) passada(s); e a entrega parcial, a medo, sem total confiança no que se está a criar, motivada por más experiências. Com precaução.

As primeiras pessoas deixam-se envolver pelo que sentem. Não param para pensar e andam para a frente como se aquela relação fosse a única que vão querer ter pelo resto da vida fora. Dedicam-se, entregam-se, expõem-se, dão-se, sempre da mesma forma, sempre sem racionalizar, sem medos. Sonham, fazem planos, de repente já casaram, já têm filhos, dois, um casal, nome para o menino e para a menina, pensam nos desenhos que vão pintar nas paredes do quarto dos miúdos, quero-te levar áquele local tão especial para mim, sem se aperceberem que provavelmente estão sozinhos nesse sonho - bom, não haja dúvida...

Porque do outro lado podem estar pessoas que têm calma com estas coisas do amor. Se é que ainda acreditam numa coisa dessas.
Pessoas que vêm o amor e as relações amorosas como se estivessem em cima de uma montanha e essas coisas fossem o vale lá em baixo. Vêm-nas melhor e mais claramente do que todas as outras. Sabem de antemão que aquela relação não é A relação. Sabem com toda a certeza do mundo que há de ter um fim, há de acabar por acabar. Não são frias, ou indiferentes. Sabem é muito bem o que querem daquilo, o que querem reter daquela relação, daquela pessoa.

Provavelmente ando a ver muito Sexo e a Cidade...
Mas sempre pensei nisto desta forma, e cheguei mesmo a pensar que provavelmente teria de treinar para ficar assim, mais consciente e racional em relação ás coisas do amor. Mas...
Acho que não quero.
Na entrega que coloco nas minhas coisas do amor encontro o prazer máximo que se pode retirar de um processo destes. Na forma como me entrego e como procuro agradar a pessoa que amo, descubro-me mais um bocadinho, eu, que nunca me dediquei assim lá muito a pensar como sou, como funciono.
E fico a saber o que se sente quando nos colocam uma mão no pescoço, à socapa. Ao que sabe um beijo no ombro ao acordar. A sensação que é espreitarem-nos enquanto tomamos banho, ficarem do lado de lá da cortina, só para conversar. Conheço o formigueiro na barriga produzido por uma palavra picante sugerida ao ouvido, mais pertinho era impossivel. Descubro o prazer de fazer amor num abraço, e sei que essa sensação é a melhor do mundo, porque a dou e percebo a reacção. Sei, porque o sinto, como deve ser bom sabermos que a qualquer momento vão entrar pela porta com a maior alegria do mundo num sorriso. A alegria de sentirmos que toda aquela saudade é amor. Puro.

E tenho medo, sempre, de perder tudo isto.
E claro, penso em como será o mundo lá fora depois de ficar sem tudo isto.
Para lá deste quarto, para lá daquela janela. Noutras ruas que não estas.
E concluo que é melhor não pensar nisso, virar-me para o lado, e enroscar-me mais um bocadinho.
Ainda faltam dez minutos para o despertador entrar.