Eu sei, é o maior post que já publiquei aqui. Mas por favor, comentem-no, não me deixem sozinho com esta angústia.
Já não pensava dar continuidade à polémica «Israel/Palestina» iniciada com um post do Carlos Moura. Na altura dei a minha opinião e pronto!
Teria ficado por ai, não fosse um documentário que tive a sorte de ver ontem, num qualquer canal de cabo. Daqueles, de documentários.
Filmado a correr, por entre tiros, bombas e mortos acabados de morrer. Pela mão corajosa de uma repórter inglesa somos levados pelas ruas e becos da faixa de Gaza. Somos levados a ver atrocidades que nunca veremos no noticiário das nove. Não é suficientemente gráfico, ou violento, para chamar a atenção. Não tem dezenas de mortos aos pedaços, nem litros de sangue espalhados por metros de rua.
O que vi ontem...
O que vi ontem foi isto.
Vi uma pacifista britânica - equipada com um colete reflector, com o símbolo da paz nas costas (irónico) utilizado apenas pelas diversas organizações não-governamentais a operar naquela região - ser esmagada pelas lagartas de um tanque de guerra, modificado para derrubar as barracas onde habitam os palestinianos.
Se calhar merecia-o. Ousou colocar-se à frente do colosso metálico e tentar impedi-lo de executar a tarefa para a qual tão corajosamente tinha sido enviado.
Vi um jovem estudante de fotografia, pertencente à mesma organização, ser baleado na cabeça. E de repente não consigo escrever mais...
Vi-o ser baleado na cabeça, minutos depois de ter entregue a máquina fotográfica a um colega para poder ousar também colocar-se entre as lagartas dos tanques de GUERRA e as barracas dos palestinianos. Vi o buraco da bala que lhe trespassou o cérebro bem marcado na parede, lado a lado com outros buracos de bala. Buracos que, como a repórter britânica fez questão de demonstrar, estavam TODOS à altura da cabeça de um adulto de estatura normal.
Vi médicos palestinianos fazerem os possiveis e os impossiveis para conseguirem transportar o jovem inglês para um hospital em Tel Avive, para poder ser devidamente operado, apenas para poder passar o resto da sua vida como um vegetal. Vi-os a exigirem à embaixada britânica garantias de que podiam transportar o paciente na sua ambulância em segurança, já que é práctica comum os soldados israelitas dispararem rajadas de metralhadora contra esses veículos de «GUERRA». Vi nos olhos de uma colega desse jovem inglês, também ela uma pacifista, o mesmo ódio visceral pelos homens que tentaram EXECUTAR o seu colega que se vê nos olhos dos radicais do Hamas. O desespero...
Vi uma equipa de televisão britânica ser parcialmente assassinada.
Quando deixava um abrigo onde tinha estado a filmar os tanques de GUERRA, enquanto estes se dedicavam a derrubar as barracas onde habitam palestinianos, esta equipa de jornalistas, devidamente identificados com coletes reflectores com a palavra PRESS bem visivel, acenando uma bandeira branca, símbolo da PAZ, dirigiram-se aos mesmos tanques de GUERRA gritando que eram imprensa e para por favor não dispararem... Dispararam. Dispararam três tiros. Um entrou pela garganta do chefe da equipa, outro matou a sua assistente. Isto foi filmado. Eu vi.
Acerca destes... incidentes, uma militar responsável pelas operações israelitas naquela zona disse o seguinte: a primeira pacifista foi esmagada acidentalmente por uma placa de betão que lhe caiu em cima;
O pacifista fotógrafo foi baleado enquanto disparava tiros de metralhadora contra o tanque, não enquanto ajudava duas crianças a esconderem-se por baixo de um carro, como várias testemunhas, jornalistas inclusive, afirmam ter visto;
Os repórteres britânicos foram apanhados entre fogo cruzado...
Mas vi mais.
Vi uma miúda de dez anos ser baleada na cabeça por um sniper israelita em plena sala de aulas. Eu vi o buraco da bala na parede, lado a lado com o sangue da miúda.
Acompanhei a sua familia na primeira visita que lhe fez, ainda no hospital. Vi a alegria nas suas faces quando a viram viva. Mas vi o horror impossivel de conter quando se deram conta de que ficara cega para o resto da sua vida. E pior do que isso, vi a dôr na cara da criança quando lhe deram a saber que aquela escuridão tão estranha e assustadora a acompanharia para sempre. E essa imagem nunca mais me deixará dormir descansado.
Vi o momento em que a repórter inglesa, quando apontava para o buraco da bala na parede da escola, teve de se atirar para o chão, devido a um obuz disparado contra o edifício. UMA ESCOLA!!! Vi as crianças calmamente escondidas debaixo das suas secretárias...
Vi um rasgão numa parede de betão. Um rasgão estranho, pintado a sangue. Foi uma munição de um tanque de GUERRA que o fez. O sangue? Proveniente da cabeça de um jovem de quinze anos que estava escondido na esquina onde começava a parede. O seu crime? Atirar pedras com os seus amigos aos tanques de GUERRA. Conseguem imaginar como ele ficou? O jovem?
Alguém me vai acusar de estar a ser tendencioso, de só ter visto o lado palestiniano da questão. Mentira! Também já vi o lado israelita. Já acompanhei um jovem pai acabado de perder a sua mulher e as duas filhas num ataque terrorista à sua própria casa. Vi o momento em que ele chegou a casa e foi impedido de entrar e de se abraçar aos corpos inertes das pessoas que mais amava, pelo seu próprio irmão.
Eu já vi os dois lados da questão.
E sabem o que vos digo? Esqueçam-se que aquelas pessoas existem. Desistam de procurar uma solução para aquele problema. Não há solução!
Como é que se pede a esta gente, aos seus familiares, para terem calma. "Medidas estão a ser tomadas, vamos sentar e conversar, vamos dialogar". Não há diálogo possivel.
Conseguem imaginar o ódio e a dôr que estas pessoas sentem? Acham que é contornável?
Não! Não é!
3 Comments:
At 13:29, Carlos said…
Repito: não há inocentes.
De ambos os lados se chora a bestialidade humana.
At 10:39, Anónimo said…
Ao ler este post, gelei! Ñ pelo problema, que infelizmente é já sobejamente conhecido, mas pq acredito nas pessoas e sou barbaramente desiludido por elas. Nós, raça humana, somos os únicos capazes de optar entre o Bem e o Mal. Mas pq não o fazemos correctamente? Porque pomos no Bem o mal e optamos mal pelo Bem? A resposta julgo ser: somos umas bestas...
At 18:22, Anónimo said…
Curiosamente acabo ter ter uma longa conversa política com o único francês simpatico (MUITO MESMO) que conheci aqui. Falávamos do problema da falta de respeito entre as culturas. Depois de 2 horas de conversa percebi que ele era... iraniano... por isso a empatia!!!!!!! E por aqui continuo em Languedoque ou lá como é q se escreve. Boas aulinhas senhor nuninho!!!!
Bisses
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