kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

domingo, setembro 23, 2007

THE LADY IN THE WATER





Finalmente pude ver o último filme de M. Night Shyamalan até ao fim - confesso com vergonha que a primeira vez que tinha tentado, adormeci quase no início para só acordar quando as luzes do cinema se acenderam.
Vi, e acabo por chegar à conclusão de que não entendo as críticas negativas de que foi alvo aquando da sua carreira no grande ecrã.

Tudo bem, não é um típico filme de Shyamalan; não tem todos aqueles ingredientes à Shyamalan que fizeram da sua maneira de realizar uma imagem de marca; não é um filme de suspense ou de terror, e nem sequer é uma obra densa, tensa e intensa. The Lady In The Water é somente um conto de embalar; uma história que contamos aos nossos filhos antes deles adormecerem. Como todos os filmes que o jovem realizador já fez, e como todos os que serão feitos, sofre de um mesmo mal: a espectativa que os sucessos anteriores depositaram nas pessoas - críticos, detractores e fãs - e que não ajuda a uma visão de um só filme como uma peça isolada, independente e única.

The Lady In The Water é uma belisima história de fadas e nada mais. Nem sequer é uma história somente sobre uma ninfa do mar chamada Story, e da tarefa que tem em mãos. Não fala somente de Narfs, Scrunts, águias gigantes e outros estranhos e míticos seres. Fala da solidão, das coisas que podem transformar a nossa vida em algo triste e sem um aparente objectivo. É um filme sobre humanidade. E é difícil aceitá-lo como sendo só isso, quando estamos à espera de mais um inesperado twist final.



Sendo um filme-conto de fadas, seria óbvio que não responderia aos usuais cânones da sétima arte. Aqui ninguém se questiona sobre os estranhos eventos que se vão sucedendo, precisamente porque num conto de fadas nunca ninguém se questiona. É a incomum normalidade na vida daquelas pessoas a que assistimos, e é só.
E é lindíssimo. Desde o prólogo - uma fantástica animação - até ao último segundo de filme
Sempre bem filmado, com todo o cuidado do mundo. Contém imagens de uma beleza plástica refinada, uma banda sonora - novamente de James Newton Howard - magnífica e comovente, e dois actores - no meio de tantos outros - em absoluto estado de graça: Paul Giamatti e Bryce Dallas Howard.


Giamatti faz neste filme, a personagem que Richard Dreyfuss fez em três filmes de Steven Spielberg, e a semelhança não parece ser somente uma coincidência. Shyamalan é um confesso pupilo do mestre cineasta, e existem, nos seus filmes, constantes referências a obras suas. Bryce Dallas Howard, depois do que já a tínhamos visto fazer em The Village, era a única jovem actriz capaz de dar a Story a doçura e fragilidade que a caracterizam.

The Lady In The Water começou por ser realmente um conto de fadas que Shyamalan contava às suas filhas antes de irem para a cama. Tornou-se num livro, brilhantemente ilustrado por Crash McCreery, e num filme magnificamente realizado.
Como um conto de fadas, nada mais.


Prólogo