A História Do Manequim Que Se Apaixonara Por Um Vestido Preto
Silva Pereira era um manequim que por um Vestido Preto se apaixonara.
Viviam ambos na montra de uma boutique, fina, de roupa chique e muito cara.
O vestido era alto, esbelto e estremamente elegante,
e Silva Pereira suspirava por ele, assim que o tiravam da estante.
Ansiava pelo dia em que lhe coubesse a responsabilidade de o usar.
O dia em que o exibiria ás mulheres que por ali costumavam passar.
Ansiava por essa hora com a mesma força com que odiava o manequim ao seu lado,
um boneco preto e atarracado, com mau hálito e muito mal «enjorcado».
Como era possivel, questionava-se Silva Pereira, que o seu Vestido por aquele mono fosse usado?
Ele sim, era um nobre e distinto manequim branco, esguio, culto e muito bem formado...
Odiava-o, por isso, de morte, e pedia todos os dias aos céus que acabassem com a vida do mono,
não importava o método, um relâmpago, cianeto ou uma picadela da mosca do sono.
O que queria era o seu amado Vestido Preto à volta do seu tronco desmembrado,
para sentir como nunca até então, a sua suavidade, a sua leveza, o seu toque acetinado.
Amava tudo naquela negra peça de alta costura: o decote estonteante, a cintura pequenina.
Os botões de veludo, as preguinhas marotas como rugas de um sorriso, a etiqueta Made In China.
Um certo dia, o terror instalou-se na boutique fina, de roupa chique e muito cara.
O Manequim Preto aparecera tombado, ferido de morte por um calhau que o desfigurara.
Algum vândalo, louco, bêbado ou drogado, ouvira as preces de Silva Pereira, com certeza,
e havia partido a montra com um arremesso certeiro de uma pedra de calçada portuguesa.
Felizmente, nessa noite, o Vestido Preto tinha ficado a repousar de horas de exposição,
pois, certamente, semelhante destino teria sofrido, juntamente com o manequim preto e anão.
Silva Pereira suspirou de alivio e como que sorriu de indisfarçado contentamento,
já que estava a poucos minutos de concretizar o seu sonho, de viver o tão aguardado momento.
Só que...
esse momento nunca chegou, já que nessa mesma manhã o seu amor havia sido vendido
a uma senhora gorda e sebosa, com pés toscos e transpirada, que nunca ficaria bem no seu Vestido.
Silva Pereira, desesperado, pensou várias vezes em saltar pelo buraco na montra rasgado,
correr atrás do seu Vestido Preto e gritar amo-te mais que tudo e quero ser teu namorado...
Mas o destino do manequim branco, por ter amaldiçoado o seu colega preto, estava traçado.
Passaria o resto da sua vida, observando através do vidro o seu Vestido, impotente e aprisionado.
Pois a gorda nojenta passava os dias a olhar para o pobre manequim envergando a sua negra amada,
e Silva Pereira passaria o resto dos seus dias implorando a misericorida de outra pedra de calçada.
1 Comments:
At 09:01, Kizzy Ysatis said…
Hola
me chamo Kizzy e sou do Brasil. Que linda história essa do manequim... É obra sua?
abraços
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