Querido Huck,
tenho muitas saudades das nossas idas à lagoa, dar uns mergulhos. De percorrer a linha do caminho de ferro até lá. De tanto lá irmos já conseguiamos fazer aqueles quilómetros todos equilibrados nos carris, lembras-te?
Sempre te invejei por seres capaz de andares descalço na gravilha e no carril a escaldar do calor de Agosto. Sempre foste mais corajoso do que eu...
Lembro-me, como se fosse ontem, dos últimos metros do caminho que tu fazias a correr. Gritavas sempre o último a chegar à água é um caracol ranhoso. Eu já sabia que era sempre o último, mas não me importava. Valia a pena ficar a ver-te tirar as jardineiras ao mesmo tempo que tentavas correr, ao mesmo tempo que tiravas uma pedra que se tinha espetado no pé, ao mesmo tempo que gritavas como os indios, até que, sem perderes tempo, saltavas para a lagoa e caías sempre de chapão na àgua. Ria-me até ás lágrimas, mas tu agias como se nada fosse. Vinhas à tona sempre com a mesma alegria com que tinhas acabado de mergulhar.
Eu, descia até à água pela margem...
E um dia, quando regressavamos a casa, descobriste mesmo um caracol ranhoso pousado no carril e perseguiste-me com ele na mão gritando é teu familiar, dá-lhe um beijinho!. Pobre caracol, acho que nem se deu conta do que lhe aconteceu.
O que nós nos rimos nessa tarde.
Tenho muitas saudades das nossas idas à lagoa.
De comer ameixas directamente da árvore, de secar ao sol até sentir a pele a endurecer, de falarmos das coisas mais disparatadas sempre com o ar mais sério do mundo. De jogarmos ao jogo dos monstros aquáticos, e se agora viesse um tubarão e te arrastasse para o fundo?, ao que eu responderia e se agora viesse o fantasma de um pirata e te afogasse?.
Fosse o que fosse que inventássemos para passar o tempo, era sempre sinónimo de gargalhada na certa.
E eu sinto falta disso.
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