kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quarta-feira, dezembro 30, 2015

UM FILME DO CARALHO




Há filmes muito bons e há filmes muito maus. Pelo meio, há todos aqueles filmes de diferentes tipos e qualidades – os fraquinhos, os pretensiosos, os que vemos mesmo sabendo que são maus mas que entretêm a malta, aqueles que podiam ser bons e aqueles que quase eram maus. E depois há os filmes do caralho. E Sicario é um filme do caralho.

E é um filme do caralho porque, pese embora de uma simplicidade rara, tem uma série de detalhes a que convém dar muita atenção. O argumento, de poucas palavras, sem floreados, curto, mas gerido como se de uma epopeia de quatro horas se tratasse, a contradizer todos os que acham que um bom argumento é um argumento palavroso, com curvas perigosas e desfechos surpreendentes. Os actores, em underacting bem medido, bem pesado, a contribuírem com o meramente suficiente para nos conduzir por uma história, mais uma vez, que podia ser resumida com «foi mesmo só isto que aconteceu». A câmara, saída das melhores lições de como filmar acção com Kathryn Bigelow. E a banda sonora, assombrosa, uma outra personagem por si só.

E no topo disto tudo, uma das melhores sequências de acção sem acção dos últimos anos. Uma cena de perseguição automóvel em que nenhum automóvel persegue outro; uma cena em que a tensão se constrói quase por si só, como se ninguém estivesse ao leme da realização; uma cena feita quase exclusivamente pelas câmaras e pela banda sonora e que enerva, inquieta e faz prever, ao segundo, que algo muito mau vai acontecer. Ou seja, que nos coloca na pele dos protagonistas de uma forma de que o cinema moderno, inundado de CGI e fogo de artifício, já há muito se esqueceu.

Num ano em que o narcotráfico esteve claramente em grande – Narcos, uma série da Netflix, e Cartel Land, um documentário – Sicario leva a palma de ouro com distinção. Merece ser visto e revisto, não pela complexidade e pela hipótese de vermos algo que nos havia escapado na primeira vez. Merece ser revisto porque é cinema do bom, com actores dos bons, sólido e sério e que sabe bem. Só isso. Simples.