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Bom Karma... ou não!

quinta-feira, novembro 01, 2012

O TEATRO EM PORTUGAL: POUCA VERGONHA E CHORADEIRA

E voltamos ao cenário do teatro em portugal. E voltamos porque, por estes dias, tem sido mais ou menos pública a choradeira de Luís Miguel Cintra face ao corte nos apoios financeiros para o teatro e em especial para a sua companhia, a Cornucópia. Ora bem, os dados são públicos e podem ser consultados no site da Direcção Geral das Artes. A leitura destes dados será - poderá ser - polémica, subjectiva, irrelevante ou consideravelmente esclarecedora, dependendo dos olhos de quem os vê. Seja como for...

A Cornucópia, a tal companhia que, segundo o seu director, Luís Miguel Cintra, aquando da última cerimónia dos Globos de Ouro, corre sérios riscos de fechar portas, receberá este ano, dos cofres do Estado, 448.579,69 euros. Se o número assim apresentado não é de fácil leitura, então fiquemos com a ideia, clara e sem margem para dúvidas, de que o orçamento da Cornucópia para 2012 é de aproximadamente meio milhão de euros. Meio milhão de euros. Meio milhão de euros para dois espectáculos, não mais do que isso. Meio milhão de euros que, por razões perfeitamente indecifráveis, não é suficiente para Luís Miguel Cintra manter uma programação e um mecanismo produtor de teatro. 

As tabelas da DG Artes são um documento essencial à compreensão de como o teatro português vive realmente.De quanto dinheiro se gasta em teatro em Portugal, de como não vemos onde esse dinheiro é investido, de como é possível algumas instituições continuarem vivas e em funcionamento com o pouco que recebem e de como outras, gordas e anafadas, se queixam sem razão, sem vergonha nas ventas. 

É claro, estas tabelas são somente números abstractos para todos os que não sabem o que realmente se passa no teatro, da porta da rua para dentro. Que não sabem os abusos levados a cabo por alguns dos maiores responsáveis pela produção teatral portuguesa. Do despesismo sem limites, dos caprichos à rico, dos vedetismos bacocos e do novo-riquismo parolo e que nada tem a ver com a vontade de fazer algo pela cultura nacional. Porque não é a arte ou a cultura que move esta gentinha, mas sim o dinheiro, o pé de meia, a reforma antecipada em forma de boa vida. 

Mas estas tabelas permitem ver a eterna diferença entre Norte e Sul, por exemplo. Despertam a curiosidade de tentar perceber porque é que determinado organismo de que nunca se ouve falar recebe tanto dinheiro, por exemplo. Permitem ver como Teatro Aberto, O Bando, Companhia de Teatro de Almada, Artistas Unidos e a já citada Cornucópia, todos de Lisboa ou arredores, recebem em conjunto bem mais do que um milhão e meio de euros. 

As tabelas da DG Artes não permitem, no entanto, ver quanto recebem os aparelhos produtores de teatro e dança que pertencem ao Estado. Já agora, fica informado, quem ler este texto, que os teatros nacionais São Carlos, São João, Dona Maria II e Companhia Nacional de Bailado, vão receber, este ano, 22,1 milhões de euros em «indemnizações compensatórias por prestação de serviço público». 22 milhões de euros. Ou seja, exactamente o dobro de todas as restantes instituições privadas em conjunto. 

Concluam o que quiserem. Justifiquem o quanto quiserem estes apoios e a forma como são decididos pelo Estado Português. Por mim continuo a dizer o que já digo há muito tempo: não ajudem este teatro.