kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, setembro 30, 2008

A VER VAMOS...


Começaram ontem os trabalhos para o novo espectáculo do TUP, a estrear em Janeiro de 2009, e que será criado e encenado pelo António Júlio .
O Júlio tinha já trabalhado com o TUP no "Cara de Fogo", e na altura apenas por um mês. Foi ele que nos iniciou num intenso e rebuscado processo de interpretação, e que se tornou também numa das melhores experiências que já tivemos. Era certo, desde essa altura, que o teríamos obrigatoriamente de convidar para ser o responsável por um trabalho à séria. Este, comemora os 60 anos do TUP, e também por essa especificidade, é que foi aberto a actores de outros grupos académicos e a ex-alunos da Academia Contemporânea do Espectáculo.
E sinceramente não tenho mais para vos contar. Porque ainda não há nada. Apenas um conceito guardado por duas palavras, "Portugal" e "orgulho", e das quais vamos literalmente construir um objecto cénico.
Duas coisas são já certezas: o Júlio foi a escolha perfeita e este vai ser um processo do caraças.
Até ao final da semana decorre um workshop que serve unicamente como audição.
A ver vamos...

domingo, setembro 28, 2008

PAUL NEWMAN

Sinceramente, vou ter de fazer um enorme esforço de memória e tentar perceber se ainda existem actores destes vivos e a trabalhar. O old blue eyes foi um dos melhores actores da história do cinema, e vê-lo trabalhar faz-nos sentir um estranho prazer, e era um dos poucos que deixava perceber o quanto se divertia ao fazer o que fazia. Foi a prova máxima de como a Academia é injusta; venceu apenas um Oscar - justíssimo, diga-se de passagem - pela interpretação de uma personagem recuperada por Martin Scorcese do filme "The Hustler". Em "The Color of Money", Newman baixou a velocidade, afastou-se do constante overacting de Tom Cruise e deu mais uma das suas lições de representação. Mas foram tantos os filmes em que brilhou, que se torna verdadeiramente impossível falar de todos.
Cresci com as imagens de Newman, Brando, Fonda e tantos outros, e entristece-me saber que actores destes, que marcaram decididamente uma era e uma maneira de fazer cinema, já não existem.
Em baixo, a primeira vez que o cinema viu "Fast" Eddie...


sábado, setembro 27, 2008

COMPLETAMENTE DIFERENTE


...e que já me está a fazer salivar é este filme, que acredito pouco que possa estrear por cá. Dos produtores de "Saw" e realizado por Darren Lynn Bousman, responsável por três dos filmes da série Saw. A coisa já tinha sido uma curta em 2006, e agora vem a aposta em algo maiorzinho e mais elaborado. Uma ópera Rock? Promete.



MAIS MUSIQUITAS


Continuando com a exploração deste meu «novo» I-Pod, passo hoje a falar de mais dois discos que têm rodado com frequência diária, em modo repeat e que melhoram a cada audição.

Bon Iver, o projecto de Justin Vernon, e o seu único álbum até à data, "For Emma Forever Ago", foram a melhor surpresa até agora. O disco é o mais bonito que já ouvi este ano, e um dos mais delicados exemplos desse Indie Folk de que tanto se tem falado e que não é mais do que o regresso às origens da melhor musica que os EUA algum dia tiveram. Depois da péssima imagem que algum country parolo deu a esse género, e que quase o arruinou definitivamente, o feliz ressuscitar veio pela mão de músicos como Devendra Banhart, Sufjan Stevens, Iron and Wine, Patrick Wolf e, claro, pelo incontornável Elliot Smith. Nem todos americanos, como é fácil de perceber, mas todos com a sensibilidade necessária para fazer desaparecer todos os elementos irritantemente artificiais que compunham esse country, digamos, mais mainstream, e criar um novo grupo de sub-géneros que primam pela simplicidade das melodias, pela nudez de vozes e instrumentos, e, acima de tudo, pela forte componente da palavra. Verdadeiros contadores de histórias, os músicos do que se decidiu chamar de freak folk, psych folk e new weird america (ver Wikipedia), podem não vender milhões de discos, fazer digressões megalómanas ou sequer aparecer na MTV, mas lá que fazem alguma da mais bela música da actualidade, lá isso fazem.
E não consigo deixar de me impressionar com um músico que nos prende apenas com a voz e uma guitarra.
Aqui em baixo os vídeos de "Re: Stacks" e "The Wolves (Act I & II)". Cuidado, podem dar um nó na garganta.
























Aproximadamente no mesmo panorama, e igualmente impressionante, o terceiro disco dos The Dodos. O grupo é composto por Meric Long e Logan Kroeber e dedica-se a fazero tal psych folk de que já falei ali em cima. E a sua música, embora muito mais complexa do que a de Bon Iver, explica-se facilmente e através de uma das canções do seu terceiro trabalho, "Visiter".
"Red and Purple", talvez a melhor do álbum, tem guitarras acústicas e extremamente metalizadas, um piano de brincar e é marcada por uma secção ritmica perfeitamente diferente de tudo a que estamos habituados: a quase ausência de uma linha de baixo e uma bateria em constante compulsão epiléptica, e umas baquetas que muitas das vezes batem em tudo menos na pele dos tambores. Por cima de tudo isto, uma voz paradoxalmente calma, um light crooner melodioso que equilibra a enredada malha
musical e que dessa forma transforma cada uma das músicas dos The Dodos em objectos estranhos, mas incrivelmente belos e viciantes. Compostas para provar que do caos pode nascer beleza. Poderão não ser fáceis, já que são composições pouco ou nada ortodoxas e que chocam de frente com o que se vai fazendo por aí. Mas são (para mim) uma novidade absolutamente empolgante.
Aqui, a versão radiofónca de "Red and Purple"

















O BLOG DO DESEMPREGADO

Não tenho na história da minha vida uma grande lista de importantes decisões. Por um lado, porque sensivelmente até aos meus 16 anos pensava sinceramente que a minha vida já estava bem encaminhada; estava convencido de que me ia acontecer o que acontecia a toda a gente: estudar, arranjar um emprego e pronto. Estava enganado. A vida é uma coisa demasiado instável para se lhe poder confiar a nossa felicidade. A minha deu-me a volta, e fez-me tomar a primeira grande e importante decisão. No dia 13 de Dezembro de 1993, acabadinho de cumprir o serviço milktar, escolhi ficar em Portugal, em arranjar um empreguito e em ajudar a minha família. Dessa forma, enterrei decididamente a minha vontade de ir para o estrangeiro e tentar a sorte por lá. Esta minha primeira decisão mudou irremediavelmente a minha vida, e de uma certa forma impediu-me de fazer o que eu mais queria, a verdade é que me ajudou também - embora eu na altura não o soubesse - a fugir a uma vidinha tipificada: estudas, trabalhas, casas-te e vais de férias para Armação-de-Pêra.
Arranjei então o tal empreguito e comecei a ajudar a minha família. Comecei a morrer. Agarrado a um emprego seguro e relativamente bem pago, fiz o que a maioria das pessoas não consegue evitar: deixei-me estar. Passei dez anos da minha vida a gramar um emprego horrível com a desculpa de que era melhor assim, que não podia mudar porque nunca se sabe o dia de amanhã, e que antes ali e mal do que noutro lado e incerto. Passei dez anos a enganar-me e a fazer tudo por tudo por me esquecer de quem era e das minhas capacidades.

Por isso mesmo, e também porque afinal o meu casamento não foi a alternativa a esta modorra, tomei a segunda grande decisão da minha vida e divorciei-me. Ao divorciar-me mudei quase tudo o que estava a fazer e que não era totalmente bom para mim. Comecei a fazer, a ver, a ir e a saber; mudei de emprego, conheci pessoas, recomecei a viver.

Ainda assim, e porque deve ser a minha natureza, voltei a cair no erro de me manter num emprego por este ser bem pago e seguro. Há dias, e depois de já ter por várias vezes ouvido a opinião de pessoas que importam, tomei a decisão. Normalmente queixamo-nos de ter de ir trabalhar no dia seguinte, ou de que amanhã já é segunda outra vez, mas nunca nos lembramos de como é assustadora a idéia "daqui a cinco anos tenho de vir trabalhar outra vez". Esquecemo-nos de que aquela rotina que acabamos por aprender a odiar, se vai repetir por quantos anos estivermos ali naquele escritório, naquela pasmaceira profissional que não ata nem desata, que não evolui e de modo algum melhora. Farto disso, assustado com a idéia de ficar irremediavelmente preso a uma profissão de que nunca gostei e certo de que só se pode dizer que fulano tem uma carreira quando este faz exactamente aquilo de que mais gosta, decidi desempregar-me e dedicar-me inteiramente ao curso de jornalismo.

O ano passado consegui entrar na faculdade e no curso com que sempre tinha sonhado. Por incompatibilidade de horários e por causa desse peso do conformismo que nos impede tantas vezes de andar para a frente, não consegui completar nenhuma das dez cadeiras. Portanto, a minha situação colocava-me naquele poto em que temos de decidir desistir ou ir a jogo. Fui a jogo. É insano, é ilógico, é altamente arriscado e preocupante, mas garanto-vos, é libertador. Já não me sentia tão bem, tão útil e tão leve há demasiado tempo. Há tanto tempo que não o consigo sequer contabilizar.

Ontem alguém me perguntava qual era a miha intenção assim que o curso estivesse concluido. Para essa pergunta ainda só tenho meia resposta. Acredito sinceramente que nunca se sabe muito bem onde se vai com um curso, e que as coisas podem mudar durante esse processo e que o fim pode ser afinal um de muitos. Sei o que me apetecia fazer, só não sei, por muitos motivos, se o consigo fazer. Sei uma coisa, no entanto, e que aprendi com uma mulher que esconde no seu tamanho pequenino e franzino uma descomunal força de conhecimento - uma mulher que me apoia ns minhas decisões, e que me impele a fazer coisas, a ver coisas e a ir a sítios; que me reensinou a viver e que agora me obriga a fazê-lo todos os dias. Sei que o mais importante é gozar estes três anos que agora começam e sempre com a certeza de que sou capaz. É só. Uma coisinha tão simples e que esteve tantos tapada por esse conformismo obeso que limita e embrutece.

Se a minha vida fosse um blog, o que está para vir seria um daqueles posts que começamos sem saber muito bem como o vamos acabar, mas que nos dão um gozo tremendo a escrever.

quinta-feira, setembro 25, 2008

SINES FERNANDES



O meu avô foi correspondente de guerra em Angola. Não sei bem explicar como chegou a essa posição, mas sei que, como em tudo o que fez na vida, o conseguiu somente por acreditar que era capaz de o fazer.
Nesta fotografia, o meu avô é o homem que está deitado na maca. Tinha acabado de sofrer o acidente que lhe partiu uma ou duas vértebras, e que o atirou para uma cama de hospital e para uma lenta e terrível recuperação que duraria meses, anos.
Sempre olhei para esta imagem com um orgulho desmedido e que nunca soube bem explicar. Antes mesmo de saber a história da vida dele, e antes sequer de a compreender, já sentia esta vaidade no meu avô. Ver esta fotografia sempre me fez sonhar; sonhar em fazer o mesmo que ele, ser correspondente de guerra, escrever para vários jornais e assinar "Sines Fernandes". Consegui-o nos poucos meses em que trabalhei para o jornal O Jogo, mas a coisa não durou o tempo que eu queria, e obviamente não me levou a ser correspondente de coisa nenhuma. O mais longe que fui foi a Ovar, fazer a cobertura de um jogo de basquetebol entre a Ovarense e um clube francês, trabalho que me soube terrivelmente bem e que me fez sentir um jornalista a sério.
Isto tudo para dizer que, 17 anos depois de ter interrompido um caminho - destesto utilizar a expressão "caminho" - escolhido absolutamente contra a vontade dos meus pais, volto a decidir pelo ilógico e pelo aparentemente irracional, na tentativa de ainda ir a tempo de recuperar um sonho.

O próximo post chama-se "O Blog do Desempregado"...

segunda-feira, setembro 22, 2008

CINEMINHA





Já devia a este blog umas palavrinhas acerca de alguns filmezitos vistos nas férias, pelo que, e em jeito de sprint final, cá vão elas...

Logo a abrir o novo(?) capítulo da saga Star Wars, intitulado "The Clone Wars", e realizado por um fã das histórias de Darth Vader, Luke Skywalker e todos os Jedis que se possam imaginar, e que recebeu das mãos do padrinho George Lucas himself, esta prenda que é, ser responsável por mais um capítulo desta imortal... De repente já não sei mais o que dizer. É que a porcaria que Dave Filoni faz com o que lhe foi generosamente entregue de bandeja é tão inútil, tão fútil e tão desinteressante que nem chega a ser mau. É fraco, sem sal nem cor, e absolutamente um péssimo pretexto para se fazer um filme, seja ele qual for, mesmo que seja uma espécie de episódio piloto para uma série de televisão da Cartoon Network. Já há muito tempo que não via uma tão má utilização da animação digital. Os bonecos são feios, os seus movimentos trôpegos e desengonçados - só mesmo os cenários e a iluminação se safam -, o argumento é escasso, quase inexistente, e é tudo tão infantil que irrita mesmo o mais paciente dos monges.
Em suma, alguém devia mandar matar George Lucas antes que ele consiga mesmo que o mundo se esqueça da maravilhosa trilogia que assinou há duas décadas.
O Darth Vader está a dar voltas no caixão.




Não muito melhor mas substancialmente mais suportável é "Get Smart". E deixem-me desde já ser sincero: nunca gostei da série original, criada por Mel Brooks e Buck Henry, e imortalizada pelo actor Don Adams. Nunca lhe achei piada, como nunca achei piada ao humor idiota e a fugir para a brejeirice de Brooks, e honestamente não compreendo a necessidade de recuperar uma série já tão afastada no tempo e na temática.
Seja como for, nem tudo é mau em "Get Smart". Ou melhor, apenas uma coisa é realmente muito boa em "Get Smart" e essa coisa é somente o melhor actor de comédia da actualidade, Steve Carrel. Todos os momentos realmente engraçados do filme são da sua responsabilidade, e mesmo os mais boçais só têm piada porque é ele a fazê-los. Qualquer outro actor tornaria a coisa insuportávelmente ridícula. Fora isso só Dwayne Johnson - anteriormente conhecido como The Rock - e Alan Arkin se safam no meio de tanta coisa fraquinha. E também não era para menos. "Get Smart" tem como realizador um senhor chamado Peter Segal, responsável por outros clássicos da pobreza cinematográfica como um episódio de "Naked Gun" e o segundo capítulo de "Nutty Professor". Segal pegou em Maxwell Smart e transformou-o literalmente no inspector Closeau, dos filmes da Pantera Cor-de-Rosa. O que até nem seria mal pensado; se há actor hoje em dia que pode muito bem pegar na pesada herança do fabuloso Peter Sellers, esse actor só poderia ser Steve Carrell. Portanto, temos um realizador que desvirtuou por completo o espírito da série original em que o filme se baseia, um argumento fraco e basicamente sem piadinha nenhuma, e o inevitável pé a fugir para o foleiro quando as coisas começam a perder a graça e o realizador não sabe o que fazer para a recuperar. Entram as piadas com gases corporais e a comédia de equívocos com o famoso cliché do sexo entre dois homens mas que afinal é só uma ilusão. Cansativo e pouco imaginativo, o filme, fabuloso como sempre, Steve Carrell.




Perdoem-me desde já a excitação, mas não há neste momento nenhum outro realizador que consiga bater Guillermo Del Toro em criatividade. Nenhum tão louco, tão febril na imaginação, e com tantos mundos e criaturas fantásticas a povoarem-lhe o cérebro. Prova disso estão os dois filmes adaptados de "The Hobbit" de Tolkien, produzidos por Peter Jackson e realizados pelo próprio Guillermo. Porque a dizer pela fauna e flora presentes no segundo Hellboy, só mesmo o mexicano para recriar - ou até mesmo melhorar - o imaginário do escritor inglês.
"Hellboy II - The Golden Army" é um espanto visual e desde já um sério candidato aos Oscares de design de produção, efeitos especiais, maquilhagem e guarda-roupa. Mas não se enganem, o filme não é só fogo-de-artifício, demónios infernais, monstros e criaturas do arco da velha; a história é terrivelmente sólida e apelativa, os actores estão bem - só não estão melhor graças ao excessivo peso de tanta maquilhagem - e a gestão da acção roça o perfeito. É claro, é do terreno dos filmes de acção e fantasia que estamos a falar, pelo que a coisa tem de ser vista na devida perspectiva. Ainda assim, "Hellboy II - The Golden Army" é um óptimo filme, e o melhor filme de heróis de 2008 - sendo que "The Dark Knight" não é considerado como um filme de heróis pelo responsável deste blog...
Para terminar a referência a dois pormenores que merecem destaque: para o facto de Guillermo Del Toro ter claramente aprendido muita coisa com a experiência de "O Labirinto do Fauno", e para uma das mais pertubadoras e espectaculares personagens de filmes do género dos últimos vinte anos: o Anjo da Morte que aparece fugazmente na recta final do filme mas que impressiona que se farta.

Amanhã há mais...

KARMABOX WITH A VIEW - VAMPIRE WEEKEND - "A-PUNK"

Para muitos esta minha paixão recente pelos Vampire Weekend já vem fora de tempo. E com toda a razão, provavelmente. Seja como for, andam a rolar no I-Pod quase sem descanso e agora, há medida que vou descobrindo os vídeos dos moços, o encanto fica ainda maior.
Este é um dos melhores vídeos que já vi, e que prova, sem margem para dúvidas, que não é preciso recorrer às mais avançadas tecnologias de efeitos especiais e de fotografia ou montagem para ser a maravilha que é. Hilariante.

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sábado, setembro 20, 2008

MUSIQUINHAS



Finalmente, depois de tantos meses sem reciclar o meu fiel I-Pod, há coisinhas novas para ouvir. Para começar o inacreditável álbum dos Vampire Weekend, do qual já não podia ouvir mais opiniões rendidas da crítica. Mas a crítica tinha razão. Os moços de Nova Iorque arrancam a carreira da melhor forma possível, e lançam bases para o que pode muito bem vir a ser o renascimento de uma big apple scene.
Todas as canções do álbum homónimo dos Vampire são maravilhosamente dançáveis, carregadinhas de detalhes deliciosas, obviamente influenciadas pelos Talking Heads dos finais da década de setenta - mas com bastantes traços do David Byrne a solo - e que fazem deste trabalho uma pérola pop como já não se ouvia há muito.
Percebo agora a frustração dos meus companheiros de viagem quando, no dia em que fui a Lisboa ver os Rage Against the Machine, perderam o concerto dos Vapire Weekend. Para a próxima quem não os deixa escapar sou eu.










Noutro universo completamente diferente está Emiliana Torrini, a senhora que já tinha pelo menos um muito aconselhável disco, e que se tornou famosa ao cantar "Gollum's Song", para a banda sonora de "O Senhor dos Aneis", de Peter Jackson. Já há muito tempo que uma canção não me atirava salazarmente da cadeira; já desde "About a Boy", de Björk que não ouvia uma canção de embalar tão magnífica, tão bela e tão arrepiantemente triste. O álbum chama-se "Me and Armini" e é absolutamente obrigatório em qualquer discografia caseira. No entanto, é "Bleeder", a sua última canção que nos faz engolir em seco e parar com tudo o que estavamos a fazer. Esta é uma daquelas canções que ao vivo remetem o público ao silêncio mais profundo; que dão um nó apertado na garganta do mais resistente insensivel e não nos dão outra hipótese se não escutá-la em repeat. Infelizmente não consegui encontrá-la em parte alguma da net, o que é pena.


Verdadeira surpresa foi o descobrir uma senhora chamada Syreeta, que para além de ter nome de cabeleireira, é senhora de uma potentíssima voz. Em 1972 Stevie Wonder escreveu e tocou practicamente todos os instrumentos do disco com o mesmo nome da madame. O resultado são nove músicas de pura soul music, muito ao género do que Stevie Wonder fazia na altura, mas servidas pela (mais ma vez) maravilhosa voz de Syreeta. Para já o duelo entre os dois na canção "To Know You is to Love You".











Há muitas mais coisinhas boas para serem ouvidas, e nas próximas semanas vou dedicar-lhes o espaço merecido aqui no cantinho.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Para começar nunca gostei particularmente da carreira dos Entre Aspas, banda liderada pela sô dona Viviane. Tá bem que apareceram numa altura da música portuguesa em que a Pop voltava a dar cartas e tá bem que até trouxeram algum sabor a novidade e tal, mas honestamente nunca me chegaram totalmente a convencer. Igual posso dizer da carreira a solo da vocalista, senhora de boa vez, com um engraçado sotaque afrancesado, mas cujas canções também nunca chegaram a passar a mediania sensaborona. Ontem, porém, fui surpreendido por uma música de Viviane que sinceramente me despertou a curiosidade. Ouvi-a até ao fim e posso afirmar sem vergonha que, sim senhora, gostei substancialmente. Tá bem que transborda a Gotan Project, e tá bem que dá uma piscadela de olho a esta nova onda de new-fado, mas funciona e bem. Só é pena o insuportavelmente mau vídeo que lhe serve de rosto. Nem nos idos oitenta se fazia coisas tão pirosas, e posso mesmo arriscar que o realizador já deve ter trabalhado muito com artistas do calibre de Ágata, Romana e outras que tal.

"SALSA E MERENGUE"

Hugo Chávez fez finalmente o que dele já se esperava há muito: esticar um bocadinho mais a sua vasta lista de impropérios e insultar directamente o governo americano. O que já quase todos os líderes mundiais tiveram vontade de fazer, com certeza. A questão é que supostamente o presidente de uma qualquer nação não deve ultrapassar nunca essa linha que separa a aspereza e dureza políticas da pura e simples má educação. Mas Chávez também não é político, diplomata ou sequer bem educado; é um segurança de boite com dois dedos de testa, musculado, viril e mui macho, e que sabe bem usar como arma de arremesso os recursos naturais do país que controla.

Obviamente a esquerda comunista exulta com cada uma destas ofensivas grunhas do gorila de fato e gravata, já que qualquer tipo de oposição ao bicho-papão que é o tio Sam é bem vinda. Um pouco como aquela coisa dos putos na escola que, como não podem andar à bofetada com o hooligan da turma, resolvem insultá-lo à distância. Não satisfeitos, ainda dizem que a crise na Bolívia é obra dos serviços secretos dos EUA. Ora bem, a coisa até podia ser verdade - não seria a primeira vez que a CIA influenciava o curso da história de um país da América Latina -, mas basta investigar um bocadinho para perceber que este problema nasce de uma situação meramente regional, que só assumiu os contornos que se conhecem porque Chávez, o gorila sensível, decidiu expulsar de Caracas o embaixador americano, depois do governo americano ter corrido com o embaixador Boliviano de Washington, como resposta à expulsão, por parte do governo boliviano, do seu homólogo americano em La Paz. Confuso? Nem por isso. Eles já não sabem bem é o que vão inventar a seguir para se oporem ao governo americano.

Lá que os EUA necessitam obrigatoriamente de ser contrariados, lá isso é verdade. Que têm de perder a predominância arrogante e a mania de que são os senhores do mundo, isso também é mais do que certo. Assim é que não me parece que vá resultar. De modo algum. Mas lá que é colorido, lá isso é, caraças!

Agora, querem saber assim mais ou menos o problema que se vive actualmente na Bolívia? Espreitem em http://www.abril.com.br/noticia/mundo/no_301457.shtml

segunda-feira, setembro 15, 2008

BLAH, BLAH, BLAH...


Honestamente não acredito que possa ser Manuela Ferreira Leite a
alternativa de governo a Sócrates. E nem sequer acredito que a mulher leve de vencido o actual primeiro-ministro. A senhora não tem força – pese embora insista naquele ar austero e levemente rude – nem imagem políticas para ocupar um qualquer cargo de relevância. É feia, tem um penteado levemente parecido com uma peruca por pentear e veste-se tal e qual como a Margaret Thatcher nos idos anos oitenta. Ferreira Leite é uma política do antigamente, empoeirada, cinzenta, ortodoxa – antiquada, até – e que me parece sinceramente não ter argumentos para conquistar o eleitorado. Olho para ela e parece-me uma figura saída directamente dos tempos rígidos da URSS.



Não melhor, mas por outras razões, é precisamente o antigo líder do PSD, Luís Filipe Menezes, que continua apostado em ficar para a história política do país como coitadinho, perseguido, traído, incompreendido e que demonstra, sempre que abre aquela boca desgraçada, que claramente não foi feito para o mundo em que se meteu.

Quando abandonou o cargo para o qual foi eleito, e depois de ter por diversas vezes feito queixinha daqueles que, dentro do próprio partido, teimavam em atacá-lo, afirmou peremptoriamente que continuaria a ajudar o PSD sem cair no erro dos seus detractores, ou seja, ninguém o ouviria a atacar a nova liderança laranja. Pois bem, o homem não se cansa de fazer outra coisa que não criticar Ferreira Leite e outros nomes maiores do PSD, demonstrando, cada vez com mais veemência, que é um menino chorão, habituado a fazer birrinhas, e que é capaz de prender a respiração até ficar azul, para conseguir o chupa-chupa que o paizinho não lhe deu.



Nos antípodas de todo este lixo está um senhor, chamado José Mário Branco, e que do alto de toda a sua legitimidade social e política, mostrou, numa entrevista ao Rádio Clube, ontem de manhã, a verdadeira dimensão da sua desilusão. Desilusão com os políticos e governantes portugueses e também com os partidos, nomeadamente com os de esquerda, PCP e Bloco de Esquerda – que ajudou a fundar. Mário Branco contou alguns episódios interessantes do PCP no pré-25 de Abril, especialmente um quem me deixou boquiaberto, e que deu a saber que o PCP, por alturas da guerra colonial, incentivou os seus jovens membros a irem para a frente de batalha de maneira a poderem espalhar a palavra revolucionária comunista. A ideia, insana e aproveitadora, contribuiu para que, entre desertores, refractários e jovens fugidos à inspecção militar, só em França fossem oitenta mil, os exilados portugueses. Desapontado com uma certa burguesia anafadamente instalada nos mais altos organismos dos partidos com que mais se identificava, José Mário Branco virou costas à política. Certo dia, mais concretamente no último comício do Bloco em que participou, afirmou “nunca deixei nenhum partido. Os partidos é que me deixaram a mim”. Quer-me parecer que os políticos portugueses ainda não perceberam que o mesmo se está a passar com a maior parte do povo que deviam servir e representar.


Entretanto, cientistas no CERN realizaram aquela que já foi considerada como a maios experiência científica da história, ao simularem um micro Big Bang no maior acelerador de partículas do mundo. Ao mesmo tempo bateram dois recordes mundiais: foi a maior concentração de geeks da história da humanidade, e o maior número de «homens que já não vêem uma mulher nua há mais de dez anos» de sempre.

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quarta-feira, setembro 10, 2008

DEATH SENTENCE

Na altura em que se estreou por cá, não o fui ver meramente por ter sido realizado pelo responsável por "Saw". Não que esse filme tivesse sido mauzinho, nada disso. "Saw" tinha matéria mais do que suficiente para merecer a visita, embora lá mais para o fim se perdesse em chavões desnecessários e para os quais já nem o mais puro fã de filmes de terror tem grande pachorra.

Depois de ler algumas críticas surpreendentemente positivas, despertei tardiamente a minha curiosidades para "Death Sentence", de James Wan, e este fim-de-semana resolvi finalmente levá-lo para casa. E não fiz nada mal, não senhor. Porque o filme é, nem mais nem menos, um bom e clássico western urbano e contemporâneo, apimentado por uma dose mais generosa e desavergonhada de violência, extremamente bem filmado, dinâmico e com um ritmo avassalador.

Os primeiros quinze minutos, contudo, chegam a confundir e assustar o espectador. De um thriller interessante, passa rapidamente para uma insuportável charopada de drama familiar, para voltar ao thriller contagiante e terminar em regime de duelo ao pôr do sol, afogado em hemoglobina e cheinho de emoções fortes.

Kevin Bacon, o actor principal, porta-se como sempre o faz, extremamente bem, e é muito bem acompanhado por Garrett Hedlund - o vilão de serviço - e o enorme John Goodman - numa personagem perfeitamente nos antípodas daquilo a que nos tem habituado. A câmara é nervosa e leva-nos permanentemente para o centro da acção, mas nunca chega a chatear ou a provocar náuseas - alguns realizadores ainda não sabem distinguir entre câmara activa e câmara histérica. A única coisa que irrita, aqui e ali, é o abuso da estética videoclip e a consequente saturação da fotografia. Não chega para incomodar, mas podia ter sido mais bem gerida.

Para terminar uma referência a uma das melhores e mais genias sequências que já vi nos últimos anos: um plano-sequência de cinco minutos, filmado num parque de estacionamento e em que a câmara ultrapassa obstáculos, sobe e desce andares e corre coladinha ao rosto e ao corpo do perseguido Bacon, que foge de um terrível bando de marginais cujo único propósito é mandar o pobre homem desta para melhor. O efeito da filmagem é só um, colocar-nos na pele de alguém que sabe que se tropeçar ou se ceder ao cansaço, morre. Mais nada.




domingo, setembro 07, 2008

BLAH, BLAH, BLAH...



Não me perguntem porquê mas tive a oportunidade de ver o novo programa da Luciana Abreu na SIC, "Lucy", e gostava aqui de desabafar acerca disso mesmo. Estava a tomar o meu último café na Zambujeira, e a televisão do estabelecimento estava precisamente a transmitir, sabe-se lá porquê, a nova aberração do canal de Carnaxide. E a coisa explica-se muito facilmente. Portanto, temos a antiga Floribela, agora com mais silicone e supostamente ainda mais sexy, de cabeleira preta, vestida como se tivesse acabadinha de sair de um mau filme de blaxploitation - ou, se preferirem, disfarçada de puta de Las Vegas - à frente de um programa matinal para os mais pequeninos. Eu disse programa? Ora bem, aquilo não é bem só um programa, mas uma elaboradíssima sucessão de entertenimento, passatempo e curiosidades científicas para a mais pequenada. Ainda pensei que tanta animação pudesse ser refreada com a transmissão, pelo meio, de alguns desenhos animados - uma coisa obviamente mais antiquada e tal -, mas não! "Lucy" foi desenhado para servir, não o público alvo que julgaríamos, mas sim a sua protagonista. Ou melhor, para dar espaço à aparentemente infindável vaidade de Luciana Abreu. Quando muito, o programa poderá agradar, isso sim, aos paizinhos dos pivetes, já que o one woman show de Luciana é feito em mini saias e decotes nada infantis. Estava eu já convencido da pobreza de tudo aquilo, e pronto para sair do café onde estava, quando uma supresa ainda maior me atingiu como uma pisadela de um dos altíssimos tacões da anfitriã Abreu: intercaladas com as actividades do programa, são-nos oferecidas verdadeiras sessões de karaoke deluxe com direito a elaboradíssimas coreografias por parte de um corpo de bailarinos e tudo. Ou seja, Luciana Abreu a fingir que canta enquanto se bamboleia, e um punhado de moços e moças a fazerem os mesmo passos que aprendem nas piores aulas de qualquer ginásio parolo da modinha. Tudo isto, claro, ao som do Top Ten da Rádio Cidade.
Honestamente, tenho cá para comigo a seguinte teoria: era impossível à SIC não aproveitar todo o sucesso granjeado pela pequena tripeirinha; todo o hype em torno da sua vida pessoal, dos seus namorados, das suas mamas novas, das suas férias, enfim, de tudo o que acontecia à sua volta. O único problema, e que aparentemente já era demasiado tarde para contrariar, é que Luciana Abreu esteve demasiado tempo longe da televisão, e que essa mesma vida pessoal a afastou de uma vez por todas do pequeno público que a elegeu rainha da miudagem.
Não sei quanto tempo vai a SIC aguentar um programa tão mau no ar; o que sei, é que assim que este lixo televisivo vestido de lantejoulas acabar, termina também a fugaz cafreira de uma moça que até tinha qualidades para se safar no caótico regulamento da televisão portuguesa.

O Red Bull Air Race voltou ao rio Douro: as hostes animaram-se, a malta veio de todo o lado deste Portugal, fecharam-se ruas, condicionou-se trânsito, gastou-se dinheiro e deu-se dinheiro a ganhar aos pequenos comerciantes. De tanto reboliço, acho que só mesmo este último factor representa realmente algo de positivo. É que o estado dá dinheiro para esta competição, ambas as autarquias interessadas na corrida contribuem também com cerca de 500 mil euros e, no entanto, o ano passado, a organização da corrida dos Fórmula Um do ar acusou um prejuízo de 630 mil euros. Ainda assim, o público que acorre às margens do Douro encolhe os ombros, diz "não é nada comigo", e vem ao Norte para passar um fim-de-semana do caraças. E faz muito bem.

Entretanto, e para não dar descanso aos tripeiros, vai-se realizar também no Porto o primeiro rodeio da Invicta. Apetecia-me começar já a insultar toda a gente envolvida nesta demonstração idiota e, pelo caminho, reduzir a energúmenos todos os que vão assistir a um espectáculo insultuoso para a vida animal. Nem me vou cansar. Não vale a pena. Continuamos a demonstrar uma gritante falta de sensibilidade ecológica e de ignorância dos direitos dos animais. Somos estúpidos, é o que somos. E como estúpidos que somos, vamos deliciar a nossa estupidez a comer rodízio enquato assistimos alegremente a um animal aos saltos com uma besta às costas. Provavelmente não nos questionamos porque razão salta ele afinal... Mas vai mais uma maminha com farofa.

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sábado, setembro 06, 2008

(MUITO) BLAH, BLAH, BLAH

Ouvi o discurso de Barak Obama - o tão aguardado discurso - na convenção democrata em que aceitou/assumiu a candidatura à presidência dos EUA. Ouvi o discurso e admito que o ouvi entusiasmado. Embora tudo aquilo seja pensado, preparado e ensaiado como se de uma produção de Hollywood se tratasse, a verdade é que já não me lembrava de um politico, muito menos um candidato a presidente da América, apresentar uma tão impressionante declaração de intenções.

A verdade é esta: fosse quem fosse o candidato democrata à Casa Branca, só a vitória nas eleições de Novembro interessariam a... todo o mundo; mais quatro anos de Republicanos seria o pior pesadelo possível. O problema é que para Obama conseguir lutar por tudo o que tem vindo a prometer, terá de defrontar cara a cara os principais lobbys da mais poderoso país do mundo, que, só por coincidência, são os mais poderosos lobbys do mundo: indústria farmacêutica, indústria do armamento, indústria petrolífera, lobby judeu e estes só para citar os maiores. Na América - como em todo o mundo, julgo - tudo é medido em lobbys; para além dos citados, temos o lobby feminista, o lobby gay, o lobby negro, o lobby de Hollywood e uma miríade de lobbys das mais diversas religiões. Entrar em conflito com este poder de modo a fazer da América um país melhor é coisa para provocar o mais violento suicídio politico da história. Se Obama vai ter a coragem e paciência necessárias para a tarefa, isso é algo por que toda a gente interessada ou simplesmente curiosa vai aguardar ansiosamente.

Com tudo isto em cima dos ombros, a constante comparação com JFK é fácil e inevitável. Na história dos EUA raramente um presidente, congressista ou senador terá tido a coragem de afrontar os interesses que por detrás do cenário mais bonito controlam verdadeiramente os designios do país. Toda a gente sabe qual foi o triste resultado dessa coragem, mas a verdade é que os tempos já não são os mesmos, e enquanto Kennedy era importante para mudar a América a partir do seu interior, Obama é vital para que a nação não só recupere do desastre económico que a governação Bush representou - destruindo o incrível trabalho de Clinton -, mas também para tentar eliminar todas aquelas características tão tipicamente americanas e que todos adoramos odiar. Será essa a única maneira de os EUA fazerem as pazes com (quase todo) o mundo.


John McCain...
Bem, na verdade não há assim tanto para falar do candidato republicano. Prisioneiro de guerra e consequentemente um glorificado herói de guerra como só o cinema nos tem apresentado, o veterano (idoso?) McCain é um republicano moderado. Não é contra os direitos dos homossexuais, não é contra o aborto e defende o ambiente e a imigração de uma forma algo distinta daquela a que o seu partido está habituado. No fundo é um tipo simpático. A escolha de Sarah Palin para sua vice-presidente é, por isso mesmo, um desesperado golpe publicitário; a derradeira tentativa do partido republicano atrair o eleitorado feminino que ainda não perdoou a Obama a derrota de Hilary Clinton, e sossegar os republicanos da ala dura, pouco satisfeitos com as tomadas de posição do seu candidato.

Sarah Palin, governadora do Alaska, é a personificação do conceito "o diabo veste Prada" mas não do ponto de vista sexual da coisa. É defensora da utilização do poderio bélico dos EUA na manutenção da sua supremacia no mundo, militante da famosa National Rifle Association, católica radical que pretende que a abstinência seja matéria obrigatória nas aulas de educação sexual, é completamente contra o casamento gay e o aborto e totalamente favorável à abertura da reserva natural do Alaska à exploração petrolífera. Ou seja, é demoníaca, a mulher, e representa orgulhosamente tudo aquilo que adoramos odiar. Ao escolhê-la, os republicanos surpreenderam toda a gente inclusive McCain, e com a exacta noção do risco que correm. O partido sabe bem que Palin pode ser um tremendo tiro no pé, e mais um argumento que pode conduzir a próxima eleição para os lados de Obama, mas a decisão, como todas em torno desta campanha, foi bem pensada, preparada e ensaiada.

Pessoalmente não consigo imaginar a derrota de Obama. Não quero acreditar que o frágil e altamente influenciável eleitorado americano esteja disposto a mais quatro anos de polémica, de má governação; mais quatro anos envolvido numa guerra que, é nítido, nunca conseguirão ganhar - seja lá o que "ganhar" represente realmente. No entanto, também ainda não me consigo convencer que é desta que um negro vai ocupar a sala oval da Casa Branca. Parece-me algo demasiado distante e difícil de alcançar numa nação ainda hoje tão preconceituosa e pouco dada a mudanças de atitude reflectidas por uma profunda mudança de mentalidade. "Orgulhosamente sós", defenderão os retrógados republicanos, que nunca admitirão que o erro é e será sempre americano. Da mentalidade americana. Neste panorama, o exemplo da self made woman que é Palin, serve como uma luva os interesses dos mais radicais. A senhora é também a personificação do american dream, mas do american dream à republicana, ou seja, que aterroriza todos aqueles que não são republicanos. Subíu na carreira a pulso depois de ter sido um caso de sucesso na vida académica, é mãe de cinco filhos - um deles recentemente enviado para o Iraque e outro, ainda bebé, que sofre de síndrome de Down - e tem fama de ser uma mulher de força, que luta sempre pelo que pretende e que raramente falha os seus objectivos. Esta é a força de que McCain, fragilizado pelo seu lado mais moderado, necessita para se conciliar com os eleitores dos estados mais conservadores e que precisam de continuar a sentir a força bruta dos EUA para estarem em segurança.
Obama contrasta violentamente com estes conceitos. É inexperiente, e frequentemente acusado de não ser mais do que um sonhador. No fundo, ainda há poucos que acreditem a 100% na sua capacidade de levar por diante todas as propostas que tem apresentado- Pessoalmente, quero acreditar que já é tempo de um politico se chegar à frente e fazer alguma coisa de realmente importante a partir precisamente do ponto de vista de um sonhador. Quero acreditar que o mundo está finalmente preparado para alguém assim. Ou acham que Obama escolheu o dia do aniversário do famoso discurso de Martin Luther King, "I Have a Dream", sem querer?

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