kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quinta-feira, maio 29, 2008

FITEI 2008



Coisa estranha, sentir pela primeira vez, e aos 35 anos, uma quase irresistível vontade de sair a meio de uma peça de teatro.Ontem, e em dia de abertura oficial da 31ª edição do FITEI, fui ver o espectáculo “Say It With Flowers”, de António Pires. Foi tudo tão fraquinho, que quase podia fazer uma lista de pontos negativos e poupar a crónica com pretensão a crítica de teatro.“Say It With Flowers” é um espectáculo que se mexe pelos universos do movimento coreografado e do teatro-dança, partindo de um texto de Gertrude Stein e usando as palavras como elemento rítmico, graças à exaustiva repetição das mesmas… o que acaba por se revelar uma tremenda seca!
Ao fim de meia hora já não conseguia ouvir o martelar de “George Henry, Henry Henry…”, e estava tão irritado com a artificialidade de um texto sem qualquer tipo de sentido, que já só me apetecia saltar lá de cima do balcão. Depois todo o corpo da peça, assente, como já referi, numa coreografia de movimentos e de alguns (poucos) elementos de dança. Ainda na véspera, um fantástico actor/encenador do Porto me dizia que para se fazer um espectáculo de movimento – como o que fui ver ontem – era obrigatório um grupo de bons actores. Não quero com isto dizer que os actores que subiram ao palco do S. João não têm qualidade. Quero, isso sim, defendê-los na dignidade com que tentaram manter um espectáculo para o qual nunca estiveram, obviamente, preparados. Em teatro de movimento, e especialmente quando o trabalho envolve uma coreografia mecanizada, existe uma regra absolutamente inviolável: os movimentos, a simultaneidade dos intervenientes, a disciplina e rigor da execução, e acima de tudo a qualidade na repetição dos gestos, devem ser inabaláveis. E assim não aconteceu. Nada de simultaneidade, disciplina e rigor, e fraca qualidade no que à repetição dos gestos diz respeito. Um actor quando faz um movimento e o repete logo de seguida, deve fazê-lo exactamente da mesma maneira. Se tal não acontecer, o pior então é corrigir esse movimento e mostrar ao público que a coisa foi mesmo sem querer. A ideia de um espectáculo de movimento que vive essencialmente dessa tal repetição de movimentos, gestos e posições, é transmitir uma imagem e uma mensagem através dessa mecanização física. Quando tudo é mal executado, o trabalho não só cheira a amadorismo como desmancha essa imagem que se quer (mais uma vez) rigorosa. Deixamos de ver o personagem e passamos a ver o actor. E não há coisa pior em teatro.

Outra regra essencial para a boa execução de um espectáculo desta natureza, é a gestão destas repetições de movimento e de texto. A primeira vez que um actor faz ou diz algo em palco, surpreende o espectador. A segunda, serve para dar a entender que existe ali uma intenção. A terceira consolida a sequência, mas já representa um risco. Esse risco instala-se de vez à quarta repetição, o mesmo é dizer, quando o espectador desabafa um “eu já sabia que ele ia fazer isto”. O espectáculo de António Pires tem exactamente uma hora a mais. Uma hora que representa exactamente o dobro do texto que deveria ter sido dito, e o dobro das sequências coreográficas que deviam ter sido representadas. Porque Pires desconhece obviamente essa regra. O exemplo é fulcral e, desde logo, preocupante: o espectáculo começa bem e logo o encenador se encarrega pessoalmente de o estragar. A sequência inicial mostra-nos um actor a caminhar até à boca de cena para anunciar o nome da peça, claramente à espera do aplauso que nunca surge. Pires não percebeu que a falta de reacção do público não podia durar mais do que três repetições, e não se precaveu, munindo o actor de uma solução mais rápida e, lá está, que surpreendesse a audiência. Estes são os pontos negativos mais gritantes de um espectáculo em que, como já disse, tudo correu mal. A escolha de microfones ajuda actores que têm de falar uns por cima dos outros e por cima de uma banda sonora às vezes alta de mais, mas torna-se completamente desadequada quando os mesmos actores têm de se mexer, agarrar, atirar para o chão e os mesmos microfones falham, fazem ruído e captam sons que se sobrepõem às palavras. A utilização de espelhos no fundo do palco para nos deixarem ver o que cinco monólitos tapam, não foi pensada para salas com mais do que a plateia, porque simplesmente a opção não funciona se o espectador estiver sentado no balcão, na tribuna ou nos camarotes de uma sala clássica como o S. João. Os monólitos também não servem na perfeição o propósito para o qual foram pensados, pura e simplesmente porque nunca conseguem esconder a totalidade do corpo ou da roupa dos actores. A opção de utilizar um texto bilingue é completamente desprovida de sentido, e a necessidade/opção de ser declamado muitas das vezes em simultâneo – como se uma tradução em tempo real

(mal feita, já agora) se tratasse – prova-se um verdadeiro desastre. Não só porque irrita – até dar vontade de saltar vocês sabem de onde… - mas também porque ao criar uma cacofonia imperceptível, baralha ainda mais qualquer tentativa de fazer chegar uma mensagem.

Resultado de tudo isto? Ao fim de meia hora os actores já deixaram escapar o público, que fala animosamente para o lado dos aumentos dos combustíveis, da situação na antiga Birmânia e se ri, fora de tempo, desrespeitando o seu trabalho e o seu esforço.

O espectáculo é chato, despropositado, sem intenção, sentido ou lógica que não seja a estética – e mesmo essa falha redondamente. E a única coisa boa? Os actores. Embora desinspirados, algo trôpegos e obviamente nada talhados para trabalhos do género, defendem com dignidade aquilo que os puseram a fazer. Dão energia aos personagens – por vezes em demasia – e tentam divertir-se. Os únicos momentos mais… interessantes de todo o espectáculo existem unicamente por sua exclusiva responsabilidade. Resultam de pequenos apontamentos cómicos que são valorizados não pela encenação – outra vez, arrastada, sonolenta e pesadona -, mas pelo cunho pessoal de cada um dos intervenientes. Foi por respeito ao seu esforço que não saí da sala ainda o espectáculo não ia a meio.

Em suma, António Pires continua a querer fazer aquilo para que claramente não tem jeitinho nenhum, e a munir-se de actores que acabam por ser massacrados por um negócio para o qual não estudaram convenientemente. Nada funciona em “Say It With Flowers”, e o resultado final assemelha-se a um grupo de estivadores, vestidos a rigor, a dançar o segundo quadro do Lago dos Cisnes. E até isso seria provavelmente mais divertido.
Foto: Mário Sousa

segunda-feira, maio 26, 2008

LA LA LA HUMAN STEPS





Disseram-me para procurar e eu encontrei.
E fiquei maravilhado, claro.
Os La La La Human Steps são a companhia de dança que eu já devia ter descoberto há anos.
Fundada na década de oitenta pelo coreógrafo Édouard Lock no Quebec, já colaboraram com artistas como David Bowie e Frank Zappa, e têm um espólio daqueles que merecem toda a atenção.
Como este "Amelia", filme realizado pelo próprio lock em 2002, com a música de David Lang, letra de Lou Reed e a magnífica fotografia de André Turpin, e que é literalmente de nos roubar o fôlego.






terça-feira, maio 20, 2008



Tentem não deixar passar esta oportunidade: o TUP vai promover um workshop de Teatro-Dança, levado a cabo pelo Luciano Amarelo e que, conhecendo o senhor como eu conheço, vai ser uma experiência não menos do que maravilhosa.
Espreitem em http://www.teatrouniversitariodoporto.blogspot.com/ para mais pormenores, contactos e coisas assim e tenham em atenção o seguinte: participem mesmo que nunca tenham feito nada do género, a piada é mesmo essa!
Inscrições até o próximo dia 23, apressem-se!!!

quarta-feira, maio 14, 2008

IGOR


Passa oficialmente a ser o filme mais ansiosamente, desesperadamente aguardado do ano neste blog. O aspecto promete e o elenco... bem, o elenco é, entre outros, o que se segue:
John Cusack, Eddie Izzard, John Cleese, Steve Buscemi, Arsenio Hall e Jay Leno!
Suficiente!?


KARMABOX WITH A VIEW - A TRIBE CALLED QUEST - "ELECTRIC RELAXATION"

Acho que já publiquei aqui uma vez este vídeo...
mas que se lixe!!!


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KARMABOX WITH A VIEW - BEE GEES - "MORE THAN A WOMAN"

Passas a vida a queixar-te de que eu "já não sei quê..." e de que antigamente "é que não sei quantos...", e por isso mesmo toma lá.

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segunda-feira, maio 12, 2008

E VIVA O TUP, CARAGO!!!



Semana louca lá para os lados da Travessa de Cedofeita. O TUP repõe "O Sonho de uma Noite de Verão", dias 14 e 15 na sua mui bela sede, e dia 17 em Lisboa. Vai ser uma loucura e uma estafa, especialmente para o elenco, mas vai valer bem a pena!
Fotos só para semana.



domingo, maio 04, 2008

SESSÃO DUPLA

Sessão dupla porque é de cinema feito a partir de banda desenhada que se fala a seguir.




Já foi há uns dias que vi em casa "30 Dias de Noite", a transposição da Graphic Novel com o mesmo nome escrita por Steve Niles, e que é mais um dos casos de sucesso da editora Dark Horse. Longe daquela BD mais convencional, feita de super-heróis e dos seus super poderes, a Dark Horse sempre marcou a sua carreira com histórias mais adultas, violentas, politicamente incorrectas e, por vezes, com óptimos argumentos para cinema de terror. Este é um desses casos. História de vampiros, mas contada de uma forma diferente das habituais histórias de vampiros, sem crucifixos, caixões, alho, estacas no coração e castelos sinistros, "30 Dias..." mostra-nos a invasão de uma pequena e isolada vila do Alaska por parte de um grupo de violentíssimos vampiros. Vampiros que não estão para brincadeiras e que não têm outra coisa em mente que não seja exterminar toda a população lá do burgo. Isto tudo numa altura do ano em que a pequena vila está sujeita a um mês inteirinho da noite mais escura - conveniente, digo eu...
Enfim, o filme começa bastante bem, instala imediatamente aquela certeza de que algo de terrivelmente mau vai acontecer e cheira a John Carpenter por todos os lados. O pior é que um filme de hora e meia onde é preciso encaixar trinta dias em que a única coisa que realmente se passa é um grupo de meia dúzia de sobreviventes a ver se consegue manter-se escondido durante... 30 dias, não é fácil de realizar. Em consequência disso a coisa esmorece, perde o ritmo e o interesse. E o que começa por ser um filme de terror do caraças, daqueles que não são para qualquer menino da mamã, transforma-se num sofrível exercício de técnica e pouco mais.






Posto isto...


Fui ver este fim de semana o "Iron Man" e confesso desde já que o fui ver repleto de preconceitos. A minha vasta experiência com os heróis da Marvel não deixava espaço a dúvidas: no universo da mítica editora americana, o defensor da justiça munido com uma armadura à prova de quase tudo não era senão um herói secundário, normalmente parceiro de outros heróis como ele ou mesmo elemento de um grupo de super-heróis, à laia dos famosos X-Men. Ou seja, apesar de ter tido direito a diversas histórias em nome próprio, o alter-ego do multimilionário Tony Stark nunca teve a importância de um Homem Aranha, de um Hulk ou, mais uma vez, dos X-Men. Portanto, tudo dava a entender ser este mais um daqueles projectos que tentam reciclar os heróis que sobram para fazer mais uns trocos, na bilheteira e nos gadgets do Toys 'R' Us. E estava tão enganado que dei por mim a lançar pedidos de desculpa para o ecrã. "Iron Man"
é desde já uma das melhores adaptações de um dos heróis da Marvel, bem filmado, bem escrito, com um argumento mais do que sólido, com um fantástico sentido de humor e nada, mas mesmo nada, pretensioso. O filme entretém, convida à pipoca, e serve na perfeição os conhecedores da personagem da mesma forma que os que nunca ouviram falar em Tony Stark, Iron Man e o diabo a quatro. E pisca o olho a uma possível sequela, nomeadamente por introduzir, lá mais para o finzinho, e depois de uma série de piadas bem esgalhadas à custa do seu longo nome, a referência à S.H.I.E.L.D., uma organização de espiões que é um elemento obrigatório da vida do Iron Man.
Para além de tudo isto, o filme é servido por uma série fantástica de actores, nomeadamente Jeff Bridges, Gwyneth Paltrow e o grande Robert Downey Jr. no papel de Tony Stark/Iron Man. Em suma, um bom filme de acção, que foge com elegância aos cânones impostos por Jerry Bruckheimer e Michael Bay, que diverte e que mantém viva esta recente tradição de «roubar» à história da banda desenhada os novos heróis da sétima arte.




sexta-feira, maio 02, 2008

É já longa a lista de comediantes de stand up que chegaram aos grandes ecrãs de Hollywood, uns experimentando as séries de televisão antes do grande salto, outros nem por isso. Richard Pryor, Eddie Murphy, Denis Leary, Jim Carrey e isto só para mencionar alguns dos mais bem sucedidos. E bem sucedidos no que ao público diz respeito, já que em muitos dos casos os filmes criados para dar suporte à carreira dos ditos comediantes, eram um pretexto muito pobrezinho para se queimar película. Disso se safou com grande eficácia e relevado garbo um dos comediantes de stand up mais bem sucedidos da história, Jerry Seinfeld. Sim senhor, teve uma série de televisão que não fez mais do que potenciar a fama já adquirida com a carreira no stand up, torná-lo reconhecido à escala planetária e um dos homens mais ricos do showbizz americano, mas a verdade é que Seinfeld sempre deu mostras de não querer ser maior do que já realmente era. Nada de muitas entrevistas ou participações em talk shows; nada de cameos em filmes de segunda categoria, ou grandes aventuras no mundo da publicidade – embora tenha participado numa ou outra campanha publicitária. Seinfeld foi mesmo o grande responsável pela morte da sua série, ao recusar uma proposta perfeitamente louca por parte da produtora, que lhe oferecia uma fortuna perfeitamente pornográfica para filmar uma última temporada. Jerry, o comediante, queria sossego.

Isto tudo para falar no “Bee Movie” que vi no fim-de-semana passado, e que, para os devidos efeitos, representa a grande incursão de Jerry Seinfeld no mundo da sétima arte. E se Seinfeld sempre deu a imagem de um artista metódico, que sabe muito bem gerir a sua carreira, a escolha de um filme de animação para rampa de lançamento, ainda por cima sob a tutela do mestre Spielberg, prova sem dúvida alguma que o homem sabe bem o que faz e que não está disposto a correr riscos desnecessários. Para além disso, ao vermos o making of de “Bee Movie” ficamos a perceber que Seinfeld foi praticamente o realizador para lá do realizador desta longa-metragem de animação. Foi ele que escolheu o elenco, foi ele que dirigiu os seus colegas actores nos momentos da gravação dos diálogos, foi ele que escreveu alguns desses diálogos e foi ele que deu opiniões aos desenhadores, produtores e compositores, e á senhora que lhe levava todos os dias um Donut e um Capuccino. Seinfeld foi quase onipotente em “Bee Movie”, pelo que é certo e seguro afirmar que “Bee Movie” é Seinfeld em toda a sua magnitude; que faz parte do mundo de Seinfeld como o podíamos ver na série e como o podemos ver nos sets de stand up que já não faz – embora esteja a tentar um regresso em força aos palcos. Por isso mesmo “Bee Movie” é um filme de animação com diálogos rápidos, inteligentíssimos, mordazes, repletos de trocadilhos verdadeiramente diabólicos e que o tornam praticamente impossível de ser traduzido. De tal forma que damos por nós a rirmo-nos não das piadas escondidas em “Bee Movie” mas das frases absolutamente ridículas e sem nexo que os tradutores conseguiram, com toda a sua maravilhosa criatividade, descortinar.
Em suma – e já vou explicar porque este “em suma” surgiu tão cedo -, “Bee Movie” tem piada, assim mesmo.
Tudo o resto… é fraquito. Principalmente a animação, que volta a demonstrar a diferença abissal que existe entre a Pixar e todos os outros estúdios de animação. As abelhinhas são muito giras, o seu mundo muito imaginativo e bem criado, ambos repletos de pormenores deliciosos e encantadores, mas, mais uma vez, tudo o resto é… fraquito. Os seres humanos parecem cepos com membros presos por pregos, toscos, muito rígidos e sem a mobilidade já há muito alcançada nos estúdios da (perdoem a repetição) Pixar. A única excepção é mesmo o terrível advogado que luta com Barry B. Benson (Seinfeld) em tribunal pela posse do mel, e que como personagem teve um carinho especial por parte dos desenhadores. O «boneco» e a fantástica interpretação de John Goodman são memoráveis e mereciam mais «tempo de antena».

De resto, uma história não muito bem esgalhada, e uma série de situações demasiado previsíveis para nos manter realmente atentos. “Bee Movie” é, como já disse, um filme engraçado, cheio de boas intenções, mas mediano face à concorrência praticamente imbatível da Pixar – já o tinha dito? – mas de onde Seinfeld sai incólume, até porque grande parte dos trunfos da longa metragem vêm directamente das mãos do comediante.
Merece a ida ao vídeo clube, mas só se o conseguirem ver sem legendagem…


Não é tão engraçado ter um governo que passa mais de metade do seu tempo útil a dizer-nos que temos de poupar, que há que apertar o cinto, e depois nos obriga a gastar cada vez mais dinheiro em combustíveis?