kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

sábado, janeiro 26, 2008

O FILME DO ANO








(O texto que se segue - título inclusive - é da exclusiva responsablidade do seu autor)


Fui ver "Cloverfield" no dia de estreia, logo na primeira sessão em que me era possivel estar presente e ainda estou arrasado. Quando pensava já serem raros os filmes que me deixam vários dias a pensar neles, eis que surge uma das tais obras que a meu ver fazem o cinema andar dois passos para a frente. "Cloverfield" pode não ser o melhor filme que vamos ver em 2008, mas é certamente o mais arrojado, o mais original e aquele que certamente tem mais hióteses de ficar pesadamente marcado na história da sétima.
E sem exageros!

Já sei que a idéia de vermos a história ser contada literalmente pelos olhos de quem a viveu tem muito de "The Blair Witch Project", mas os responsáveis por esse filme, quando o realizaram, não pensavam que o conceito poderia (haveria de) ser levado a um nível destes. Matt Reeves e J. J. Abrams arriscaram tudo num projecto que nunca havia sido tentado por ninguém, que está claramente uns valentes anos à frente de tudo o que se faz actualmente e que não é somente um produto de entertenimento. Mas que é um enormíssimo produto de entretenimento, lá isso é.

Foi, durante largos meses o filme mais secreto de sempre - mantido num segredo quase absoluto, sem se perceber muito bem como -; gozou de uma fabulosa campanha de marketing viral (que garantiu desde logo o sucesso do filme assim que ele surgisse nas salas de cinema); criou na comunidade web um culto de fãs antecipados verdadeiramente esmagadora, elevando os niveis de interesse e de curiosidade como até hoje nunca tinho visto um filme fazer.

"Cloverfield" conta-nos como Manhatan foi destruída numa só noite. Mais, mostra-nos, através dos «olhos» de um de cinco amigos, como foi essa noite, colocando-nos precisamente no meio da catástrofe, no meio da multidão, no meio da correria, do caos e do pesadelo. Nunca como até aqui a sensação de estarmos dentro de um filme tinha sido tão... real. Dei por mim, em várias sequências, de punhos cerrados, ou agarrado à cadeira. Reeves e a sua equipa de montagem souberam fabricar "Cloverfield" de maneira a não nos darem um só segundo de sossego e por isso mesmo, este não é um normal filme de acção com direito a pipocas e tudo. Porque não há sequer tempo para meter a pipoca à boca. São 75 minutos de incessante correria pelas ruas devastadas de Manhatan, sempre sem sabermos muito bem o que se está a passar ou o que nos espera ao virar da próxima esquina. Exemplo disso é uma de duas sequências maiores, que nos mantêm colados à cadeira boquiabertos. Enquanto tentam chegar a casa de uma outra rapariga, supostamente soterrada nos destroços do seu apartamento, o grupo de amigos é apanhado entre o exército e a causa de tanta destruição. De um lado o pesadelo em carne e osso de que tentam fugir, do outro um arsenal bélico a ser verdadeiramente despejado, sem apelo nem agravo. A cena é brutal e obriga-nos a suster a respiração durante alguns segundos. A segunda, e que dá continuidade à que vai ser publicada ali mais abaixo, é decalcada de uma outra, real, que teve lugar no fatídico dia 11 de Novembro, quando as torres gémeas foram atacadas. A sequência é notável, por ser tão real - como todo o filme, aliás -, obrigando-nos mais uma vez a suster a respiração, desta feita, na tentativa de passarmos despercebidos.

"Cloverfield" dá um passo de gigante e leva a indústria cinematográfica para uma nova dimensão. Porque nos entretém como nenhum blockbuster de Michael Bay já é capaz, porque traça novas directrizes, novos métodos e uma nova e espectacular estética, e porque passa a ser O filme-catástrofe por excelência. A partir daqui, nada vai ser como dantes. O risco (elevado) valeu bem a pena e o filme é claramente um objecto vencedor. No primeiro fim de semana de exibição fartou-se de bater recordes de bilheteira, o público está, em geral, rendido, e a tal comunidade web que salivava pelo seu visionamento, já começou a descobrir sinais escondidos no filme que nos remetem para as mais loucas e interessantes teorias de conspiração. A propósito, aguentem estoicamente o trailer final e tentem perceber uma de muitas pistas que nos são atiradas - provavelmente só para o gozo - pelo realizador.

Conclusão: o efeito desejado foi alcançado na perfeição, a ilusão é total e a intensidade quase insuportável. A única coisa má do filme? Não se poder ver mais do que uma vez por se saber que o impacto nunca será como o da primeira vez. Embora a vontade de ir a correr vê-lo novamente seja quase incontrolável...

Como incontrolável é já a vontadinha de ver como o filme foi feito!!!





Perceberam como falei do filme sem mencionar uma única vez o hediondo monstro que provoca toda esta destruição?

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JUSTIÇA SEJA FEITA

É hoje quase certo que Heath Ledger não se suicidou mas foi, isso sim, vítima de um incidente estúpido com medicamentos.
Não muda nada, mas significa muito.

Ontem estava a pensar que (estranhamente) vou ter saudades de o ver no grande ecrã.

Ia publicar um qualquer vídeo com uma qualquer cena de um filme interpretado por ele, mas estou farto de procurar por entre lamechices de homenagens e noícias da sua morte. Paciência, fica-me a memória.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

HEATH LEDGER, 1979 - 2008







Acabo de saber da morte de um dos mais promissores jovens actores da actualidade e estou... chocado. Fico sempre assim quando sou confrontado com a morte e me lembro de como tudo pode ser tão imediatamente rápido.
Heath Ledger, com apenas 28 anos, deixa-nos um punhado de boas personagens, nem todas em bons filmes, é certo, mas todas elas carregadas de uma intensidade muito própria. Ok, era um ídolo teen, mas fica para a história pela forma destemida como foi contra todas as regras do star system quando participou em "Brockeback Mountain".
E porque era realmente um dos bons.
Só o crítico mais intencionalmente pessimista poderia fazer cara feia ao Joker de Ledger. No mais recente capítulo da saga Batman, o australiano cria, contra todas as opiniões - que previam o fracasso de tal escolha e que berravam «erro de casting» a cada oportunidade dada -, o melho joker de sempre e arrisca-se a roubar o filme só para ele. O mesmo é dizer, faz esquecer Jack Nicholson. E isto sem sequer ter visto ainda o filme. O trailer mostra tudo, e dá a conhecer, finalmente, o Joker que conhecíamos de algumas das histórias mais sinistras de Batman, doentio, demente e terrivelmente perigoso.
Heath Ledger estava actualmente a filmar "The Imaginarium Of Doctor Parnassus", de Tery Gilliam, mas a morte em Nova Iorque - presumivelmente o suicídio por meio de comprimidos para dormir - cortou-lhe a carreira ainda ela não ia a meio.
Fica o Joker...






terça-feira, janeiro 22, 2008

PARA QUE NÃO RESTEM DÚVIDAS...




1ª introdução

De um certo ponto de vista, não existe melhor democracia que a do mundo animal. No mundo dos animais ditos «irracionais», os mais fortes dentro de um mesmo grupo, usam o seu poder para se assumirem como líderes, com regalias mas sem grandes abusos de poder. Eventualmente têm de defender a sua posição contra as tentativas de outros que desejam a mesma posição e que estão dispostos a lutar por ela. Ou seja, está no poder quem faz realmente por isso - mesmo que a coisa seja um tudo ou nada violenta.


2ª introdução

A Quarta Convenção de Genebra - assinada em 1949 e que revia as três anteriores, acrescentando regras que protegem todos os civís em período de guerra - entre muitas outras coisas importantes diz o seguinte:


Artigo 2.º
(...) A Convenção aplicar-se-á igualmente em todos os casos de ocupação total ou parcial do território de uma Alta Parte contratante, mesmo que esta ocupação não encontre qualquer resistência militar. (...)



Artigo 3.º

No caso de conflito armado que não apresente um carácter internacional e que ocorra no território de uma das Altas Partes contratantes, cada uma das Partes no conflito será obrigada aplicar, pelo menos, as seguintes disposições:
1) As pessoas que não tomem parte directamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto as armas e as pessoas que tenham sido postas fora de combate por doença, ferimentos, detenção, ou por qualquer outra causa, serão, em todas as circunstâncias, tratadas com humanidade, sem nenhuma distinção de carácter desfavorável baseada na raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo.
Para este efeito, são e manter-se-ão proibidas, em qualquer ocasião e lugar, relativamente às pessoas acima mencionadas:
a) As ofensas contra a vida e a integridade física, especialmente o homicídio sob todas as formas, mutilações, tratamentos cruéis, torturas e suplícios;
b) A tomada de reféns;
c) As ofensas à dignidade das pessoas, especialmente os tratamentos humilhantes e degradantes; (...)



TÍTULO III
Estatuto e tratamento das pessoas protegidas


SECÇÃO I
Disposições comuns aos territórios das Partes no conflito e aos territórios ocupados


Artigo 31.º

Nenhuma coacção de ordem física ou moral pode ser exercida contra as pessoas protegidas, especialmente para conseguir delas, ou de terceiros, informações.



Artigo 32.º

As Altas Partes contratantes proíbem-se expressamente qualquer medida que possa causar sofrimentos físicos ou o extermínio das pessoas protegidas em seu poder. Esta proibição não tem em vista apenas o assassínio, a tortura, os castigos corporais, as mutilações e as experiências médicas ou científicas que não forem necessárias para o tratamento médico de uma pessoa protegida, mas também todas as outras brutalidades, quer sejam praticadas por agentes civis ou militares.



Artigo 33.º

Nenhuma pessoa protegida pode ser castigada por uma infracção que não tenha cometido pessoalmente. As penas colectivas, assim como todas as medidas de intimação ou de terrorismo, são proibidas. (...)

E eu podia continuar, se tal fosse necessário, mas dado o tema que se segue, parece-me que o essencial está aqui bem representado.




ABU GHRAIB

Depois da transcrição parcial da Convenção de Genebra, depois desta imagem, e acima de tudo, depois do título deste post, dá-me idéia de que não era realmente necessário pôr-me para aqui a escrever fosse o que fosse. Da mesma forma, não foi preciso assistir ao documentário que um canal nacional transmitiu a semana passada, para saber o que se passou na prisão de Abu Ghraib no início de 2004. Não foi necessário rever as inqualificáveis «fotos turisticas» tiradas por alguns soldados americanos tiraram das suas actividades lúdicas com prisioneiros iraquianos, para saber o que por lá se passou, ou sequer o que é um nó na garganta. Daqueles bem apertados, que fazem doer e chorar.

Mas infelizmente foi preciso que algumas pessoas - poucas, porque um documentário deste calibre é e será sempre empurrado para horários pouco nobres - o tivessem visto, para se darem conta do que se passou em Abu Ghraib. Infelizmente a desinformação continua a ser (ironicamente) o mais poderoso veículo de informação que existe. Mais até do que as Floribelas, Morangos e novelas da nossa estupidez. A desinformação informa. Informa aquilo que tem de ser informado para que não se façam muitas ondas, para que não se levantem muitos tapetes, para que não se descubram muitas sujidadezinhas atrás dos móveis. E funciona.

De todas as vergonhas americanas desde que o Tio Sam invadiu o Iraque, Abu Ghraib será sempre aquela que mais enoja, aquela que mais revolta, e aquela que mais facilmente nos remete à nossa qualidade mais irracionalmente violenta e vingativa. Sim porque, em certos casos, ser irracional é de facto uma qualidade. E que se fodam os new born christians, andróides telecomandados que apregoam a quem se der ao trabalho de lhes prestar atenção "assim tornamo-nos iguais a eles" sem saberem sequer o que raio isso significa! Este mundo, esta humanidade, não foram feitos para dar espaço a modernismos new age da merda paz e amor e sorriso permanente flautinhas de pan e músicas com sons de riachos e passarinhos a piupiuzar. Este mundo, esta humanidade, estes animais de merda que nem mereciam ser chamados de animais mas agora não me ocorre coisa melhor, mereciam a velha e boa lei do «olho por olho...». Estes pedaços de merda andróides telecomandados que obviamente estavam a pendurar pretos em árvores e a queimar cruzes nos everglades do Mississipi no dia em que deram a Convenção de Genebra em West Point; estes merdosos mereciam exactamente aquilo que impuseram aos prisioneiros de Abu Ghraib; os mesmos prisioneiros que estes energúmenos deviam ter protegido de quaisquer "tratamentos humilhantes e degradantes".

Não sou anti-americano, da mesma forma que não sou anti-seja-lá-o-que-for, e acho inclusive que os que se afirmam tão fervorosamente anti-qualquer-coisa, são-no por -lá está - pura desinformação e porque até já vai parecendo mal não ser anti-alguma-coisa. Sou, isso sim, anti-humano. Porque desprezo cada vez mais uma maioria que cresce ainda mais a olhos vistos. Porque me custa cada vez mais a adormecer sabendo que o mundo está uma merda, não por causa exclusiva dos americanos, mas por culpa de todos; os que fazem e os que ficam a ver aplaudindo alegremente.

Há mortos no Quénia? Quantos? Talvez milhares? Daqui a quinze dias reunimos um grupo de trabalho para resolver a coisa. Como disse? O Kofi Annan está engripado e a coisa vai ter de ser adiada? Ok, a malta diz aos quenianos que morram só mais um bocadinho e que assim que o Kofi estiver melhor - à custa de muito Vick Vaporub - voltamos a reunir o tal grupo de... «trabalho», reservamos alguns quartos nos hoteis mais caros de Nairobi, para o grupo e seus acompanhantes, e temos uma conversinha, sim?

Somos uma humanidade de merda, que gosta de fazer de África o seu recreio pessoal; o playground onde fazemos safaris com a nata do jet set, onde filmamos grandes produções de Hollywood, onde fazemos férias radicalmente românticas, onde construímos fábricas da Nike, Coca-Cola e da Barbie e onde ainda temos tempo para correr um Lisboa-Dakarzinho de quando em vez. A mesma África, se não me falha a memória, que morre todos os dias mais um bocadinho, à custa da fome, do HIV, da brutal criminalidade e de inúmeras guerras civís mesmo à nossa frente enquanto aplaudimos fervorosamente!

E a Ásia? E a América Latina? Usamos o orgulho de sermos ocidentais e particularmente de pertencermos à Velha Europa como se fosse um estandarte, vaidoso e ao mesmo tempo intimidatório, e no fundo não passamos de velhos decrépitos que nos mijamos pelas pernas abaixo, que bem podemos chamar pela enfermeira boazona que ela nunca vem, mas que ao fim de semana gostamos de vestir o nosso melhor fatinho e fingir que ainda somos bonitos, elegantes e muito garbosos. Fachada, hipocrisia, faz-de-conta! Somos uma merda, tão má como a merda que fez de Abu Ghraib mais do que uma simples prisão; a merda que transformou aquele local e aqueles prisioneiros em imortais. A merda dos americanos e a merda dos europeus, sempre de mãos dadas, mesmo que por trás das costas para os outros não verem.

E nós? Nós aplaudimos. E eles? Eles dizem que é errado e que vão tomar providencias e que isto assim não pode ser e... ficam à espera daquilo que é já uma certeza: o povo esquece tudo. O povo só reclama durante alguns dias e depois tudo passa. Estamos tão habituados à morte na televisão que já não ficamos chocados, enojados ou revoltados. E só reclamamos se alguém se colocar à frente do ecrã no momento em que um polícia militar estiver a espetar um pontapé bem assente na costelas de um tipo nu, amarrado e coberto de excrementos.

Animais? Animais irracionais? Gostava mesmo de conhecer a pessoa que inventou o conceito de «animal irracional». Gostava mesmo de saber a sua opinião, perante o mundo de merda e a humanidade de merda reinante. Os animais? São a maior democracia que existe. Não abusam do poder que conquistam e conhecem bem as regras pelas quais vivem e sobrevivem. Sem exageros, sem excessos, sem chocarem.

Abu Ghraib foi um dos piores episódios da história de merda da humanidade. Não foi o primeiro e não será com toda a certeza o último. Os portugueses na guerra colonial, os espanhois, antes, na sua guerra civil, os americanos no Vietname, os vietnamitas no Vietname, os Sérvios, os Russos, os Iraquianos, os Paquistaneses, os Israelitas, os Australianos que podiam legalmente matar aborígenes, os Chineses. Nenhum destes ou dos que faltam neste minúscula lista, foi à escola no dia em que se falou da dignidade humana. E qualquer dia esquecemo-nos todos de que isso algum dia existiu.

"THE MONSTERS IN MY TUMMY"

Já aqui tinha falado do fantástico Roman Dirge, a propósito do livro "Something At The Window Is Scratching", e volto agora ao desenhador/mágico/poeta para vos mostrar o seu mais recente trabalho - pelo menos com edição (original) em Portugal -, "The Monsters In My Tummy".
Desenganem-se desde já, o livro não é propriamente uma historinha para crianças. Dirge é o consagrado autor de "Lenore - The Adventures Of a Cute Little Dead Girl", e o seu universo não é bem o que se pode considerar de ortodoxo ou politicamente correcto. Mesmo assim o americano sempre consegue imprimir uma certa doçura às histórias que nos conta.

Este "The Monsters..." não é excepção, e por detrás de uma rima amorosa e em tons infantis, esconde-se uma história tenebrosa e doentia, sobre os monstros que se escondem dentro de nós e que surgem quando acordados por uma terrivel dor.

Para terem uma pequena idéia do homem responsável por isto, reparem bem na dedicatória com que abre o livro:


Dedicated to a certain girl...
I hope your life is filled with
wonderful accomplishments,
love and all the magic you desire...
-But I hope your death
is slow and horrible


Apresentações à parte, as linhas que dão o mote à história de um rapaz que tem... monstros na barriga:


There once was a boy
so in love for years
with a girl who caused him
pain and tears.
Yeat for reasons unknown
he was suddenly alone
as these words rang through his ears...
"I don't want you anymore.
I want a man with a Mercedes,
who has lot's of money
to give to the ladies.
I leave you now..."
- and away she went
with shalowness to be had
and money to spent.
Inside - the boy's heart
throbbede and ached.
How much of her had been real
and what was faked?
As this was pondered
he felt like going insane.
Drinking and sleeping
to well the pain.
From the world
he decided to hide.
But there was no escaping
from what was brewing inside.

sábado, janeiro 19, 2008

SQUIRREL NUT ZIPPERS


A história é muito fácil de contar. Os Squirrel Nut Zippers formaram-se em 1993 nos EUA, eram muitos, tinham dois vocalistas, James "Jimbo" Mathus e Katharine Whalen (casados), eram inqualificáveis, já que misturavam mais géneros do que era possivel contar, tiveram um relativo sucesso lá para os lados da américa, e gravaram um dos meus álbum preferidos de toda a história. "Hot" é uma explosão de energia dançável, música perfeita para todas as festas e totalmente viciante. Foi gravado em regime live, ou seja, todos a tocarem ao mesmo tempo no estúdio - supostamente na fazenda do casal cantor - e é bastante representativo da loucura contagiante da banda.
Se não conhecem então vale seguramente a pena ver as duas amostras publicadas, especialmente para constatarem que Whalen é um herdeira honrada das qualidades vocais de Billie Holiday.



















Put a Lid On It









Hell






KARMABOX WITH A VIEW - NITIN SAWHNEY & REENA BHARDWAJ - "NADIA "

Se calhar acontece a muito boa gente, ficar arrepiado quando perante alguma coisa impressionante.Ouvir esta música provoca-me sempre essa reacção, especialmente assim, ao vivo. É que a voz da senhora é igualzinha à que surge na versão original, de estúdio, imaculada, sem falhas. Irra!

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KARMABOX WITH A VIEW - ED HARCOURT - "YOU PUT A SPELL ON ME"

Fui apanhado de surpresa com a novidade. Ed Harcourt, um dos meus cantautores de eleição, lançou um single novo - em Setembro... - e a música, como de costme, é belíssima.
Será que o homem nunca mais cá volta?


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PABLO FRANCISCO - ECSTASY AT TECHNO CLUB

Não é por cá dos mais conhecidos comediantes de stand up, mas que o homem é genial, é.
Vejam, vale a pena!


quinta-feira, janeiro 17, 2008

KARMABOX WITH A VIEW - DOUBLE EDITION

E agora podia muito bem fazer como no post anterior e criar um link directo para (novamente) o blog do Carlos, mas quero ter a honra de publicar estes dois momentos aqui no meu cantinho.

Do primeiro já tinha aqui falado, e na altura desafiei o Moura a tentar publicar o video de Bruce Springsteen ao vivo em Dublin, interpretando o clássico "Pay Me My Money Down". Passado um par de meses desde que o vi pela primeira vez - e boquiaberto - em casa do Carlos, ele aqui está, em todo o seu esplendor e beleza. Digam o que disserem, ninguém demonstra este prazer de estar em palco entre amigos, esta alegria em fazer o que mais se gosta, que o boss carrega às costas há já algumas décadas. E sem perder fulgor.
Durante a tournée deste espectáculo, a coreografia desta música em particular foi sempre a mesma, com todos os músicos a virem à boca do palco brindarem o público e incluí-lo na sua festa particular. Este concerto foi diferente. Neste, o público irlandês foi surpreendido por um mimo mais especial de Bruce, e o finalzinho do vídeo, a prová-lo, é de uma intimidade e cumplicidade comoventes.




O segundo momento, mostra uma grande, enorme, senhora da música, e que infelizmente já não anda tão activa como nas décadas de oitenta e noventa: Annie Lenox.
Ao vivo no Live8, a vocalista dos extintos Eurithmics esmagou, com a sua voz e com as imagens projectadas no ecrã de pessoas infectadas com o vírus do HIV, todos os que estiveram naquele estádio. Ao ponto do silêncio ter sido quase total. A música termina como terminou sempre. Da mesma forma, da mesma maneira, mas aqui com um peso totalmente diferente. Porque de repente as imagens daquelas pessoas adquiriram uma força e uma lógica que até aí ainda não tinham sido percebidas. Quando Lennox nos pergunta "do you know what I feel", sentimos uma vergonha inexplicável, porque de facto não, não sabemos.

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terça-feira, janeiro 15, 2008

CINEMA COM TOMATES DE AÇO

Andava há um bom par de semanas para ir ver o último filme de David Cronenberg, "Eastern Promises", e ontem - depois de picado pela crónica do Carlos Moura - lá fui prestar a minha vassalagem ao mestre canadiano. E que filme do caraças! Que realização do caraças!! E que actor do caraças!!!

Cronenberg, que tinha voltado a dar nas vistas com o filme anterior "A History Of Violence", regressa para provar que, depois de ter optado por um caminho completamente diferente daquele que o tornou (famigeradamente) famoso, continua a ser um dos grandes realizadores anti-convencionais da sétima arte. O responsável por alguns dos filmes de terror mais originais do género - "A Mosca" e "Scanners", só para citar os mais conhecidos - nunca precisou de pedir liçenca para incomodar o espectador e ser o mais politicamente incorrecto possivel. A sua obra está marcada por uma forte ligação aos «mistérios da carne» e do sexo, e como tal, sempre tivemos boas e convincentes imagens de tripas, cicatrizes, metal com carne e carne com metal e de outras coisas viscerais e bastante nojentinhas. Cronenberg é e sempre foi um realizador totalmente descoplexado, e a malta gostava disso.

O afastar desse cinema mais... cru - não me ocorre nada melhor -, deu-se com "Crash", onde o homem se deliciou a filmar pessoas normais com um fetiche por acidentes automóveis. Daí ao sexo era um instantinho, e a obra, apesar de longe do que Cronenberg costumava fazer, chocou, abalou e fez estremecer o público. E relançou o seu nome de uma forma elegantemente inquestionável.

"Easten Promises" é um filme duro, seco, frio e bruto como um comboio, mas sem nunca perder essa mesma elegância. Mostra o que tem a mostrar, sem problemas, sem complexos ou pudores, e transmite-nos uma uma sensação de calma podre; sem saber muito bem porquê, dei por mim a sentir que alguma coisa mesmo muito má estava sempre para acontecer. Quase como percorrer um belíssimo corredor repleto de belíssimas portas mas sempre há espera que alguém saia de uma das portas para nos degolar com uma belíssima navalha de barbeiro.

À boleia de um dos melhores filmes do ano passado está também a (mais do que provável) melhor interpretação do ano passado: Viggo Mortensen.
Longe, muito longe do (excelente) Aragorn da trilogia do Senhor dos Aneis, o actor americano assina o melhor papel da sua carreira, presenteando-nos com um daqueles mauzões por quem nos apaixonamos imediatamente. Desde Hannibal Lecter que uma personagem não nos inspirava tanto medo e ao mesmo tempo tanta atracção. O gélido "Nikolai" de Mortensen é a verdadeira bomba que está sempre prestes a expldir; vemos o filme e estamos sempre à espera que ele vá dar uma facada, torcer o pescoço ou rebentar os miolos a alguém que não lhe dê as boas noites como deve ser. E no entanto, tanta coisa se esconde por detrás da confiança cruel do rosto quase transfigurado de Viggo Mortensen. É uma daquelas interpretações que me faz voltar ao cinema e rever "Eastern Promises" para poder apreciar cada nuance, cada milímetro de gesto, cada grama de expressividade, cada palavra de "Nikolai". Obviamente que não chega para afirmar que é dele a responsabilidade da inegável qualidade do filme. Mas que a obra de Cronenberg não seria de facto a mesma, fosse "nikolai" criado por outro actor, ai lá isso não seria.

Para além disso, ainda temos o prazer de rever Armin Mueller-Stahl e Vincent Cassel, dois dos melhores actores europeus da actualidade, e Naomi Watts, lindíssima como sempre, e uma actriz que já provou sobejamente o que vale. Excelente a banda sonora de Howard Shore, magnífica a fotografia e... bem, podia passar aqui mais umas quantas linhas a descrever "Eastern Promises", mas acreditem quando vos digo que este é um dos absolutamente imperdiveis.







domingo, janeiro 13, 2008

VIVA A FNAC!!

Porque me deu a hipótese de comprar, de um assentada e a óptimo preço, três dos filmes obrigatórios minha na lista dos favoritos: "Garden State", "21 Gramas" e "Do The Right Thing".
Falarei dos dois últimos lá mais para a frente neste blog - embora já exista por aqui um post dedicado ao filme de Spike Lee -, porque hoje fica a referência mais que merecida ao primeiro filme escrito e realizado pelo jovem actor Zach Braff.
Como actor, Zach ficou por cá conhecido (se é que ficou...) como o jovem médico da fabulosa série Scrubs, exibida há um par de anos pela SIC Radical. Como realizador, não poderia ter melhor começo. "Garden State" é um filme delicioso, tocante e com um sentido de humor quase sempre nonsense e muito ao jeito de um Al Hartley. É, acima de tudo, uma obra sincera e de uma sensibilidade nem sempre fácil de se encontrar no cinema mainstream. Tem uma banda sonora de luxo, e que encaixa na perfeição no tom do filme, e interpretações todas elas brilhantes, nomeadamente do trio Zach Braff, Natalie Portman e Peter Sarsgaard.
Zach Braff consegue filmar a história (quase) auto-biográfica, que escreveu quando ainda estava na faculdade, com a mestria e a segurança dos mestres do cinema independente americano.Não consigo mesmo encontrar uma única falha em "Garden State", o que acaba por não supreender num filme tao simples e no entanto tão poderoso.



sábado, janeiro 12, 2008

"QUEM É O MONSTRO LINDO, QUEM É?"

Se ainda há pessoas a visitarem este blog, provavelmente devem achar estranho por eu ainda perder tempo a ver filmes como "Alien Vs. Predator - Requiem". É legítima a dúvida, mas é ainda mais legítima a razão que me leva a fazê-lo. Cinéfilo que sou, e com licenciatura nos géneros de ficção científica e terror, não consigo não salivar quando perante o monstro mais magnificamente belo e a criatura mais irresistivelmente cool da história do cinema - na minha opinião, pois claro.
Obviamente, longe vão os tempos dos três primeiros filmes da saga Alien - o quarto é intragável -, e dos dois Predator, mas ver os dois bicharocos num ecrã de cinema é coisa para me deixar a babar durante uma semana. Mesmo sabendo que quase certamente vou assistir a uma estopada.

A primeira tentativa de reunir os dois mais temiveis extraterrestres de sempre num mesmo filme, foi assim uma coisa um bocadito chata e sensaborona, e tinha ficado honestamente convencido de que não haveria lugar a uma segunda hipótese. Estava errado. Alguém se lembrou de uma desculpa esfarrapada para deixar aliens à solta numa pequena vila americana, e para lhes atiçar um implacável Predador. No caso, uma nave destes caçadores interestelares - onde é levada a cabo uma experiência que dá origem a um híbrido entre as duas espécies - sofre um pequeno e nada inesperado acidente e espeta-se no meio do bosque que rodeia o tal vilarejo. O que se passa a seguir é sobejamente conhecido. Mortes a metro e sangue a jorros.

O grau de originalidade é igual a absolutamente nadinha, mas a possibilidade de ver parte da história através dos olhos do predador é fantástica, e permite-nos o prazer de nos deliciarmos com o estilo absolutamente deslumbrante do Marlon Brando dos extraterrestres, espécie de ninja jamaicano com gadgets à la James Bond.

Ou seja, nada de novo, nada de excepcional, mas tudo de bom, no que a matar saudades dos dois monstros diz respeito. A fazer pensar que uma revisitação às duas séries já fazia sentido. Até consigo imaginar um novo Predator pelas mãozinhas sábias do Michael Bay. Isso é que era!!!




terça-feira, janeiro 08, 2008

KARMABOX WITH A VIEW - HOT CHIP - "READY FOR THE FLOOR"

Para concluir, o último e fantástico single dos fenomenais Hot Chip, servido por outro maravilhoso vídeo.

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KARMABOX WITH A VIEW - ROLLING STONES - "SHE'S SO COLD"

Dei-me conta, no regresso do trabalho, no carro, e pela reacção do vizinho do carro ao lado, de que realmente ao ouvir as músicas dos Stones não conseguimos fazer outra coisa senão dançar como o Velho Mick fazia/faz/fará.

E não me canso de dizer: não há groove como este!


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Admito, não foi o grandioso filme que me parecia que fosse ser, e isso irrita-me pela simples razão de que essa espectativa foi arruinada apenas por um «pequeno pormenor». Um pormenor chamado "o produtor fartou-se do filme ser tão diferente e mandou o realizador remar para o lado comercialóide da coisa".
Mesmo assim, "I Am Legend" é um filme brilhante em tantos outros aspectos que merece o devido destaque.
E começa por ser brilhante pela forma como foge inteligentemente ao típico filme de zombies de que toda a gente estava à espera. Mais, o segundo filme de Francis Lawrence, que se estreou com o muito aconselhável "Constantine"- que se lixem as críticas derrotistas -, nem sequer é um filme de terror. "I Am Legend" é um ovni, um filme como já poucos realizadores têm coragem de fazer. E essa foi precisamente a razão que fez com que estivesse tanto tempo na prateleira, há espera de um nome que lhe desse a consistência - só quando Will Smth se mostrou interessado pelo projecto, é que os senhores dos dinheiros decidiram avançar com a concretização. E ainda bem. O filme é um objecto de coragem, por gastar grande parte da sua duração com um actor sozinho numa Nova Iorque devastada, tendo como única companhia uma cadela, Sam, e a ameaça constante das criaturas sedentas de sangue em que se transformaram os novaiorquinos. Ou seja, durante mais minutos do que aqueles a que estamos (mal) habituados, não se passa lá grande coisa. E é precisamente esse ambiente, ao mesmo tempo nostálgico e terrivelmente triste que rodeia a personagem do Dr. Robert Neville, conjugado com uma densa e sufocante atmosfera de medo, provocada pela tal ameaça, que mantém o filme num nível altíssimo e que me fez desejar revê-lo ainda não tinham decorrido dez minutos de exibição. As imagens de Neville calcorreando a cidade cumprindo escrupulosamente os seus rituais - procura de comida, «aluguer» de filmes num videoclube, as conversas de ocasião com alguns manequins por ele dispostos de maneira a parecer que tudo está afinal normal e a constante tentativa de encontrar outros sobreviventes - são de uma estranha e incomum beleza e de uma esmagadora e aterradora força. Imaginarmo-nos na situação do cientista que sobreviveu, sabe-se lá porquê, a uma devastadora epidemia, obriga-nos a ponderar muita coisinha que normalmente nem nos passa pela cabeça.
Tivesse o realizador a capacidade de manter a coisa estável até ao fim, e teríamos filmão. Ao invés, levamos logo o primeiro bofetão nas beiças assim que avistamos pela primeira vez uma das tais criaturas que Neville tenta evitar a todo o custo. Como é possível uma mega produção deste calibre «escarrar» uns bonecos animaditos sem graça nenhuma, mal feitos e que nem conseguem disfarçar o CGI de que são feitos? É ridículo e totalmente inaceitável, e desfaz toda a tensão que o filme vinha criando em nós, já não apenas confortáveis espectadores da sorte do Dr. Neville. De repente até nos apetece rir das figurinhas daqueles infelizes que mais não fazem do que rugir e que ainda por cima são muito mal paridinhos.
Como se já não fosse suficiente, o momento em que os mostrengos começas decididamente a fazer a sua aprição no filme, é o momento em que o realizador decide fazer inversão de marcha no sentido em que a coisa ia, e tornar tudo o que era contenção, sensibilidade e um ambiente de uma paz triste e conformada, num blockbuster há moda de todos os outros.
Até aí, o trabalho de Will Smith era de uma franqueza e de uma entrega comoventes. Smith é sublime e imperceptivelmente coerente no papel do cientista que -vamos percebendo à medida que o filme avança - já não está assim tão mentalmente são quanto parece. A partir desse fatídico momento, volta a ser o Will Smith de outros tempos menos recomendados.
E tive tanta pena que fosse assim. Seria sem dúvida um dos grandes filmes de acção do ano, e com uma nobreza e dignidade incomuns para o género.
Mesmo assim, "I Am Legend" merece a pena ser visto num cinema condigno, nem que para isso tenham de sair da sala no preciso momento em que esta sequência aqui publicada termina.
Acreditem...


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AH, MOÇO DO INFERNO!!!


O Hellboy de Mike Mignola era uma das personagens da BD por quem eu mais salivava (no sentido cinematográfico da coisa, claro), e ver Guillermo Del Toro como o responsável pela ousada transposição do papel para a película, encheu-me na altura da mais gorda das fés. E com razão. Afinal o homem já tinha no currículo preciosidades do calibre de "Cronos", "El Espinazo Del Diablo" - ainda os seus melhores filmes - e "Blade II", pelo que se apresentava como um dos raros realizadores que se sente serem capazes de melhor filmar personagens da BD. E "Hellboy", de 2004, foi a prova disso mesmo. Sem cair no erro irritantemente comum de querer condensar em duas horas de filme anos e anos da história do personagem, Del Toro soube conduzir o seu filme de modo a torná-lo divertido e ao mesmo tempo coerente. Ou seja, comecei de imediato a salivar por uma sequela. E ela aí está.
Pela amostra, percebe-se bem que o realizador mexicano aprendeu qualquer coisa de diferente com a sua anterior obra, "O Labirinto Do Fauno". A imagem, a cor do filme, a «roupagem» dos personagens e todo o ambiente deste "Hellboy - The Golden Army", foram claramente beber a essa maravilhosa obra do cinema fantástico.
E acreditem, nada é, por estes dias, mais certo do que isto: Guillermo Del Toro salvou o cinema de ficção do marasmo sem criatividade em que tinha caido, e completa, com realizadores como M. Night Shyamalan, um grupo de cineastas que fez renascer a magia da sétima arte e o encanto infantil que sentimos ao ver filmes destes.
Nunca mais chega...


domingo, janeiro 06, 2008

BACK FROM THE DEAD




Este podia bem ser o título do filme de terror com final feliz que teve lugar esta madrugada. E filme de terror apenas pelo conteúdo, já que o que se passou foi uma verdadeira operação cirúrgica à laia do Dr. Frankenstein.

Como devem estar recordados, há coisa de quase um ano o meu fiel Ipod morreu-me nos braços numa tarde chuvosa e deprimente. Esta semana, e depois de alertado por um video na internet, decidi arriscar a compra de uma bateria nova, não fosse às vezes o problema estar precisamente no coração do aparelho. E não é que resultou? Resultou e o meu Ipod agora é o verdadeiro undead do mundo da musica transportável - quer dizer, pelo menos do meu mundo da música.

Os mais desatentos poderão achar ridículo o facto de nunca tentado mudar a bateria do meu Ipod avariado, mas deixem-me que vos explique uma coisa: desde sempre nos foi transmitida a idéia - pela Apple e por todos os revendedores que comercializam os seus leitores de MP3 - de que um Ipod avariado é um Ipod reformado. Para além disso, se quisermos ultrapassar o revendedor e enviar o pequeno aparelho para os EUA, os custos dão de tal forma desanimadores que somos tentados a adquirir um aparelho novinho em folha e a esquecer o antigo.

Posto isto, a minha vida readquiriu a cor da música, o que significa que vou voltar a estar mais atento às novidades e que vou voltar a partilhá-las com quem por aqui passa.
"He's alive!!!!"

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Eu sei que não é a melhor das razões, mas ontem, enquanto lavava a louça, lembrei-me de ti. Lembrei-me de estar na tua casa a ver-te esfregar teimosamente os pratos só com um braço. Tinhas o outro partido em não sei quantos bocados e, furioso, decidiste inventar uma "técnica para lavar louça para manetas". Foi assim que lhe chamaste. A verdade é que não ficava lá muito bem lavada, mas ver-te decidido a mudar alguma coisa, especialmente naquela fase da tua vida, sabia-me bem. Invejava-te naquela altura. Estavas tão estável, tão tranquilamente estável. Tinhas a vida feita - uma expressão que os mais antigos sempre gostaram tanto de utilizar. Invejava-te e desprezava-te ao mesmo tempo, por estares tão preguiçosamente entregue a um estilo de vida que nunca foi o teu. Ainda estavas apaixonado, e acreditavas piamente na decisão que tinhas tomado; acreditavas que o plano que tinhas traçado para ti, para a tua vida, estava correcto e podia realmente funcionar. No fundo, adorava ter essa fé nas minhas decisões, mas não sou capaz. Parece que cada decidão que tomo me afasta cada vez mais do «grande esquema» que tinha desenhado para mim.

Lembrei-me daquela noite em que, à porta do Empire Dinner, em Nova Iorque, depois de um serão magnífico, passado nas ruas da cidade mais bonita do mundo, e depois de uma longa e adorável conversa com o barman acerca da tua máquina fotográfica, suspiraste e me disseste "não consigo continuar a viver assim". Tinhamos saído do Dinner mas tu não começaste logo a caminhar. Ficaste ali parado a olhar para a rua e eu decidi que isso era uma boa idéia, e juntei-me a ti. Ao fim de alguns minutos ali especados disparaste-me essa frase que ainda hoje ecoa na minha cabeça. Compreendi imediatamente o que me estavas a dizer, e percebi a tristeza que já não se escondia por trás da tua constante boa disposição. Ninguém sabia, pois não? Nunca o tinhas dito, nem mesmo aos teus amigos mais próximos. Estavas sozinho naquela dúvida que era já mais do que uma certeza.
Lembro-me tão bem de comentarmos como a música "I Don't Know What It Is" do Rufus nos fazia pensar nas ruas de Nova Iorque ao sol. E ainda hoje é assim. Basta-me ouvir os primeiros acordes para pensar em ti naquela cidade.

Morreste sem que se tivesse passado um ano desde essa nossa conversa à porta do Empire Dinner. Morreste-me em Novembro de 2005, e morrer foi a melhor coisa que podias ter feito.
Acho que devias saber disto. Acho que devias saber que desse tempo em que te invejava e desprezava ao mesmo tempo não restou nada. Nada. A vida que tu tinhas morreu quando tu morreste. Os hábitos, os amigos, o teu sorriso, todos morreram contigo e eu tenho saudades de te desprezar nessa altura em que te invejava. Tenho saudades da alegria que davas à minha vida, dando alegria às vidas dos outros. Tenho saudades dessa tua capacidade de esconder tão bem as tuas dores dos outros. De viveres a vida com a mesma alegria de sempre sem que ninguém percebesse o que lhe diziam os teus olhos. Nunca souberam, pois não? Não podiam saber, tu nunca lhes disseste.

E juro-te que vou regressar a Nova Iorque um dia, e que vou novamente ao Empire Dinner e que vou olhar por ti o piano onde se costumava sentar o Tom Waits, e que vou novamente especar à porta e juro-te, que se a voz não me morrer na garganta, vou soltar um suspiro e dizer baixinho que te amo e que tenho saudades tuas.